quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Saudita é condenado a mil chicotadas e prisão por falar de sexo na TV

Um cidadão saudita que em julho narrou em um canal de televisão internacional árabe suas aventuras sexuais, na ultraconservadora Arábia Saudita, foi condenado a mil chicotadas e a cinco anos de prisão, segundo o jornal "Al-Riadh".
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O diário informa hoje que um tribunal de Jidá, no Mar Vermelho, cidade natal do acusado, identificado como Mazan Abdel Jawad, o declarou culpado de "estender o vício" através de um meio de comunicação.
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Além disso, Jawad, divorciado e pai de quatro filhos, terá que submeter-se a tratamento psiquiátrico por sua ousadia e, após cumprir sua pena, não poderá sair do país por outros cinco anos.Em julho, o acusado apareceu em um programa do canal internacional libanês "LBC", no qual relatou suas "aventuras sexuais".
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Além disso, cinco amigos de Jawad, três dos quais aparecem no vídeo mostrado no programa, também foram declarados culpados.Os três acusados que participaram da gravação, que confessaram diante das câmeras que, para eles, o sexo era uma parte muito importante de suas vidas, passarão dois anos na prisão e receberão 300 chicotadas cada um.
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No programa, Jawad conta que teve sua primeira relação sexual com uma vizinha quando tinha 14 anos e mostra os preservativos que guarda em uma gaveta em seu quarto.Além disso, em um carro esportivo vermelho, conta sua técnica para ligar para outros países onde o sexo não é tabu como na Arábia Saudita.Durante o processo, as autoridades sauditas fecharam os escritórios da "LBC" nas cidades de Jidá e Riad.
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Nos interrogatórios, Jawad se declarou inocente e assegurou que tudo tinha sido uma montagem da cadeia de TV e que não era sua voz a que aparecia em vários momentos do programa televisivo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A questão do aborto, vista sem hipocrisia

por Luiz Zanin Oricchio
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Fim do Silêncio é um documentário muito simples e por isso abre o jogo: o aborto ilegal é um dos principais problemas de saúde pública do País.
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O filme, de Thereza Jessouroun, passa hoje às 23h10 na TV Cultura e seu grande mérito é tratar o tema sem o moralismo habitual. Ouve as pessoas diretamente envolvidas no problema - as mulheres que tiveram, ou optaram por praticá-lo. E, sabiamente, ignora especialistas, políticos e religiosos.Thereza visita mulheres no Rio, em Pernambuco e São Paulo.
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Há entrevistadas de várias classes sociais, mas predominam as pobres, o que não é difícil de entender. São elas que, com maior frequência, veem-se obrigadas a apelar para o aborto clandestino como forma de contracepção. Muitas falam de danos à saúde, danos psicológicos, ou situações grotescas, como a que encontrou dois fetos embrulhados num pacote. No total, são 22 mulheres, que olham diretamente para a câmera, sem esconder o rosto, o nome ou a emoção. Contam por que, em que circunstâncias, praticaram a interrupção da gravidez. Muitas vezes foi por decisão própria; outras, por imposição de maridos ou parceiros.
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Poucas cenas externas são mostradas. No máximo, uma aproximação ao bairro, à moradia das entrevistadas. O resto é esculpido em planos internos, a câmera em geral fixa, concentrada no rosto de quem fala.Entre os depoimentos, aparecem intertítulos informativos. Por exemplo, que o medicamento Cytotec é o abortivo mais usado. Ou que o projeto de descriminalização está empacado na Câmara desde 1991. Ou que os lobbies religiosos são o principal entrave à aprovação da lei.
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O filme foi financiado pelo Ministério da Saúde e não se propõe como panfleto pró-liberalização do aborto. Se toma um partido, o faz em nome de quem sofre na pele o problema. Abre uma fresta na ignorância e joga luz sobre a hipocrisia com que a questão em geral é tratada.

Quem escreveu a Bíblia?