• O PONTO COMUM
LIDE RESPONSABILIDADE CIVIL ALEGAÇÃO DE DANO CULPA
• RESPONSABILIDADE CIVIL
• Responsabilidade:
– Obrigação de arcar com as conseqüências de um determinado ato, em regra, ilícito – Transgressão de um preceito legal.
• CIVIL
– Dever de reparar o dano causado a outrem.
• CRIMINAL
• Responsabilidade Civil Subjetiva
– Deriva da Culpa – Lato Sensu
• Dolo
• Culpa –Stricto Sensu
– Imprudência, negligência, Imperícia
• RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
• Responsabilidade Civil Subjetiva
• Contratual
• Comum ou Aquiliana – Deriva de um Ato Ilícito
• REQUISITOS
– Ação ou omissão do agente.
– Culpa do agente.
– Dano experimentado pela vítima.
– Relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano experimentado pela vítima.
• RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
• Responsabilidade Civil Objetiva
– Prescinde da Culpa
– Não prescinde da Causa
REQUISITOS
– Ação ou omissão do agente.
– Dano experimentado pela vítima.
– Relação de causalidade entre a ação ou omissão do agente e o dano experimentado pela vítima.
“É presumida a culpa do patrão pelo ato culposo do empregado ou preposto.”
Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal
• O DANO
Dano é a lesão ao bem protegido pelo ordenamento jurídico. Pode haver ato ilícito sem dano.
O dano se divide em:
1. Patrimonial
1.1. Dano Material
1.2. Dano Emergente
1.3. Lucros Cessantes
2. Extrapatrimonial
Segundo o art. 947 CC, deve-se buscar primeiro a recomposição à situação primitiva.
• TEORIAS MODERNAS QUE MERECEM ATENÇÃO
A – CARGAS PROBATÓRIAS DINÂMICAS: AGIU CORRETAMENTE? ENTÃO PROVE!
B – TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE
Por unanimidade, a 5ª Turma do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) condenou a União a pagar R$ 100 mil de indenização a uma viúva que perdeu o marido, de 42 anos. Hospital Geral de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense .
“Pelos prontuários, é possível concluir-se que o agravamento do estado do paciente poderia ter sido evitado, se nos atendimentos iniciais tivesse sido dispensado um cuidado maior na análise de seu quadro clínico”, relator do caso Desembargador Federal Antônio Cruz Netto.
sábado, 14 de novembro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Saudita é condenado a mil chicotadas e prisão por falar de sexo na TV
Um cidadão saudita que em julho narrou em um canal de televisão internacional árabe suas aventuras sexuais, na ultraconservadora Arábia Saudita, foi condenado a mil chicotadas e a cinco anos de prisão, segundo o jornal "Al-Riadh".
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O diário informa hoje que um tribunal de Jidá, no Mar Vermelho, cidade natal do acusado, identificado como Mazan Abdel Jawad, o declarou culpado de "estender o vício" através de um meio de comunicação.
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Além disso, Jawad, divorciado e pai de quatro filhos, terá que submeter-se a tratamento psiquiátrico por sua ousadia e, após cumprir sua pena, não poderá sair do país por outros cinco anos.Em julho, o acusado apareceu em um programa do canal internacional libanês "LBC", no qual relatou suas "aventuras sexuais".
Além disso, Jawad, divorciado e pai de quatro filhos, terá que submeter-se a tratamento psiquiátrico por sua ousadia e, após cumprir sua pena, não poderá sair do país por outros cinco anos.Em julho, o acusado apareceu em um programa do canal internacional libanês "LBC", no qual relatou suas "aventuras sexuais".
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Além disso, cinco amigos de Jawad, três dos quais aparecem no vídeo mostrado no programa, também foram declarados culpados.Os três acusados que participaram da gravação, que confessaram diante das câmeras que, para eles, o sexo era uma parte muito importante de suas vidas, passarão dois anos na prisão e receberão 300 chicotadas cada um.
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No programa, Jawad conta que teve sua primeira relação sexual com uma vizinha quando tinha 14 anos e mostra os preservativos que guarda em uma gaveta em seu quarto.Além disso, em um carro esportivo vermelho, conta sua técnica para ligar para outros países onde o sexo não é tabu como na Arábia Saudita.Durante o processo, as autoridades sauditas fecharam os escritórios da "LBC" nas cidades de Jidá e Riad.
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Nos interrogatórios, Jawad se declarou inocente e assegurou que tudo tinha sido uma montagem da cadeia de TV e que não era sua voz a que aparecia em vários momentos do programa televisivo.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
A questão do aborto, vista sem hipocrisia
por Luiz Zanin Oricchio
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Fim do Silêncio é um documentário muito simples e por isso abre o jogo: o aborto ilegal é um dos principais problemas de saúde pública do País.
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O filme, de Thereza Jessouroun, passa hoje às 23h10 na TV Cultura e seu grande mérito é tratar o tema sem o moralismo habitual. Ouve as pessoas diretamente envolvidas no problema - as mulheres que tiveram, ou optaram por praticá-lo. E, sabiamente, ignora especialistas, políticos e religiosos.Thereza visita mulheres no Rio, em Pernambuco e São Paulo.
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Há entrevistadas de várias classes sociais, mas predominam as pobres, o que não é difícil de entender. São elas que, com maior frequência, veem-se obrigadas a apelar para o aborto clandestino como forma de contracepção. Muitas falam de danos à saúde, danos psicológicos, ou situações grotescas, como a que encontrou dois fetos embrulhados num pacote. No total, são 22 mulheres, que olham diretamente para a câmera, sem esconder o rosto, o nome ou a emoção. Contam por que, em que circunstâncias, praticaram a interrupção da gravidez. Muitas vezes foi por decisão própria; outras, por imposição de maridos ou parceiros.
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Poucas cenas externas são mostradas. No máximo, uma aproximação ao bairro, à moradia das entrevistadas. O resto é esculpido em planos internos, a câmera em geral fixa, concentrada no rosto de quem fala.Entre os depoimentos, aparecem intertítulos informativos. Por exemplo, que o medicamento Cytotec é o abortivo mais usado. Ou que o projeto de descriminalização está empacado na Câmara desde 1991. Ou que os lobbies religiosos são o principal entrave à aprovação da lei.
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O filme foi financiado pelo Ministério da Saúde e não se propõe como panfleto pró-liberalização do aborto. Se toma um partido, o faz em nome de quem sofre na pele o problema. Abre uma fresta na ignorância e joga luz sobre a hipocrisia com que a questão em geral é tratada.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
A complexa gênese do povo judeu
Descobertas arqueológicas e etnográficas recentes revelam: a idéia de que os judeus seriam descendentes diretos de Moisés, Davi e Salomão é uma farsa ideológica. Como tantos outros povos, eles formaram-se num processo histórico rico e contraditório, que envolve múltiplas etnias e não cabe na descrição religiosa e fundamentalista que ainda prevalece
Shlomo Sand
Qualquer israelense sabe que o povo judeu existe desde a entrega da Torá [1]no monte Sinai e se considera seu descendente direto e exclusivo. Todos estão convencidos de que os judeus saíram do Egito e fixaram-se na Terra Prometida, onde edificaram o glorioso reino de Davi e Salomão, posteriormente dividido entre Judéia e Israel. E ninguém ignora o fato de que esse povo conheceu o exílio em duas ocasiões: depois da destruição do Primeiro Templo, no século 6 a.C., e após o fim do Segundo Templo, em 70 d.C.
*
Foram quase 2 mil anos de errância desde então. A tribulação levou-os ao Iêmen, ao Marrocos, à Espanha, à Alemanha, à Polônia e até aos confins da Rússia. Felizmente, eles sempre conseguiram preservar os laços de sangue entre as comunidades, tão distantes umas das outras, e mantiveram sua unicidade.
As condições para o retorno à antiga pátria amadureceram apenas no final do século 19. O genocídio nazista, porém, impediu que milhões de judeus repovoassem naturalmente Eretz Israel, a terra de Israel, um sonho de quase vinte séculos.
*
De onde vem essa interpretação da história judaica, amplamente difundida e resumida acima?
*
Trata-se de uma obra do século 19, feita por talentosos reconstrutores do passado, cuja imaginação fértil inventou, sobre a base de pedaços da memória religiosa judaico-cristã, um encadeamento genealógico contínuo para o povo judeu. Claro, a abundante historiografia do judaísmo comporta abordagens plurais, mas as concepções essenciais elaboradas nesse período nunca foram questionadas.
*
Em Israel, há departamentos acadêmicos especiais para o estudo da “história do povo judeu”. Lá prevalecem temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas.
*
Quando apareciam descobertas capazes de contradizer a imagem do passado linear, elas praticamente não tinham eco. Como um maxilar solidamente fechado, o imperativo nacional bloqueava qualquer espécie de contradição ou desvio em relação ao relato dominante. E as instâncias específicas de produção do conhecimento sobre o passado judeu contribuíram muito para essa curiosa paralisia unilateral: em Israel, os departamentos exclusivamente dedicados ao estudo da “história do povo judeu” são bastante distintos daqueles da chamada “história geral”.
*
Esses pesquisadores “autorizados” tampouco participaram da controvérsia trazida pela revisão histórica do fim dos anos 1980. A maioria dos atores desse debate público veio de outras disciplinas ou de horizontes extra-universitários, inclusive de fora de Israel: foram sociólogos, orientalistas, lingüistas, geógrafos, especialistas em ciência política, pesquisadores em literatura e arqueólogos que formularam novas reflexões sobre o passado judaico e sionista. Dos “departamentos de história judaica” só surgiram rumores temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas.
*
Ou seja, após 60 anos recém-completos, a historiografia de Israel amadureceu muito pouco e, aparentemente, não evoluirá em curto prazo. Porém, os fatos revelados pelas novas pesquisas colocam para todo historiador honesto questões fundamentais — ainda que surpreendentes, numa primeira abordagem.
*
*
Nos anos 1980, as descobertas arqueológicas abalam os mitos fundadores. Moisés não conduziu à “terra prometida”. Não houve revolta dos escravos egípcios. O reinado suntuoso de Davi e Salomão foi inventado. A “segunda diáspora”, também
*
Mas eis que, ao longo dos anos 1980, a terra treme, abalando os mitos fundadores. Novas descobertas arqueológicas contradizem a possibilidade de um grande êxodo no século 13 antes da nossa era. Da mesma forma, Moisés não poderia ter feito os hebreus saírem do Egito, nem tê-los conduzido à “terra prometida” — pelo simples fato de que, naquela época, a região estava nas mãos dos próprios egípcios! Aliás, não existe nenhum traço de revolta de escravos no reinado dos faraós, nem de uma conquista rápida de Canaã por estrangeiros.
*
Tampouco há sinal ou lembrança do suntuoso reinado de Davi e Salomão. As descobertas da década passada mostram a existência de dois pequenos reinos: Israel, o mais potente; e a Judéia, cujos habitantes não sofreram exílio no século 6 a.C. Apenas as elites políticas e intelectuais tiveram de se instalar na Babilônia, e foi desse encontro decisivo com os cultos persas que nasceu o monoteísmo judaico.
*
E o exílio do ano 70 d.C. teria efetivamente acontecido?
*
Paradoxalmente, esse “evento fundador” da história dos judeus, de onde a “diáspora” tira sua origem, não rendeu sequer um trabalho de pesquisa. E por uma razão bem prosaica: os romanos nunca exilaram povo nenhum em toda a porção oriental do Mediterrâneo. Com exceção dos prisioneiros reduzidos à escravidão, os habitantes da Judéia continuaram a viver em suas terras mesmo após a destruição do Segundo Templo.
*
Uma parte deles se converteu ao cristianismo no século 4, enquanto a maioria aderiu ao Islã, durante a conquista árabe do século 7. E os pensadores sionistas não ignoravam isso: tanto Yitzhak ben Zvi, que seria presidente de Israel, quanto David ben Gurion, fundador do país, escreveram sobre isso até 1929, ano da grande revolta palestina.
*
Ambos mencionam, em várias ocasiões, o fato de que os camponeses da Palestina eram os descendentes dos habitantes da antiga Judéia [2].
*
O êxito da religião de Jesus não colocou fim ao judaísmo. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Após o século 7, berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica
*
Mas, na falta de um exílio a partir da Palestina romanizada, de onde vieram os judeus que povoaram o perímetro do Mediterrâneo desde a Antigüidade? Por trás da cortina da historiografia nacional, esconde-se uma surpreendente realidade histórica: do levante dos macabeus, no século 2 a.C., à revolta de Bar Kokhba, no século 2 d.C., o judaísmo foi a primeira religião prosélita. Nesse período, a dinastia dos hasmoneus converteu à força os idumeus do sul da Judéia e os itureus da Galiléia, anexando-os ao “povo de Israel”. Partindo desse reino judeu-helenista, o judaísmo se espalhou por todo o Oriente Médio e pelo perímetro mediterrâneo. No primeiro século de nossa era surgiu o reinado judeu de Adiabena, no território do atual Curdistão, e a ele seguiram-se alguns outros com as mesmas características.
*
Os escritos de Flávio Josefo são apenas um dos testemunhos do ardor prosélito dos judeus: de Horácio a Sêneca, de Juvenal a Tácito, vários escritores latinos expressaram seu temor sobre a prática da conversão, autorizada pela Mixná e pelo Talmude [3].
*
No começo do século 4, o êxito da religião de Jesus não colocou fim à expansão do judaísmo, mas empurrou seu proselitismo para as margens do mundo cultural cristão. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Seus descendentes mantiveram a fé judaica após a expansão do Islã e preservam-na até os dias de hoje. Da mesma forma, os cronistas árabes nos contam sobre a existência de tribos berberes judaizadas: contra a pressão árabe sobre a África do Norte, no século 7, surgiu a figura lendária da rainha judia Dihya-el-Kahina. Em seguida, esses berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica e estabeleceram ali os fundamentos da simbiose particular entre judeus e muçulmanos, característica da cultura hispano-arábe.
*
A conversão em massa mais significativa ocorreu, no entanto, entre o mar Negro e o mar Cáspio, no imenso reino Cazar do século 8. A expansão do judaísmo do Cáucaso até as terras que hoje pertencem à Ucrânia engendrou várias comunidades que seriam expulsas para o Leste europeu pelas invasões mongóis do século 13. Lá, os judeus vindos das regiões eslavas do sul e dos atuais territórios alemães estabeleceram as bases da grande cultura ídiche [4].
*
Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro
*
Esses relatos sobre as origens plurais dos judeus figuraram, de forma mais ou menos hesitante, na historiografia sionista até o início dos anos 1960. Depois disso, foram progressivamente marginalizados e, por fim, desapareceram totalmente da memória pública israelense. Afinal, os conquistadores de Jerusalém em 1967 deveriam ser os descendentes diretos de seu reinado mítico, e não de guerreiros berberes ou cavaleiros cazares. Com isso, os judeus assumiram a figura de éthnos específico que, depois de 2 mil anos de exílio e errância, voltava para a sua capital.
*
E os defensores desse relato linear e indivisível não mobilizam apenas o ensino de história: eles convocam igualmente a biologia. Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro. A “pesquisa sobre as origens das populações” representa hoje um campo legítimo e popular da biologia molecular, e o cromossomo Y masculino ganhou um lugar de honra ao lado de uma Clio judia na busca desenfreada pela unicidade do “povo eleito”.
*
Essa concepção histórica constitui a base da política identitária do estado de Israel e é exatamente seu ponto fraco. Ela se presta efetivamente a uma definição essencialista e etnocentrista do judaísmo, alimentando uma segregação que mantém a distância entre judeus e não-judeus.
*
Israel, 60 anos depois de sua fundação, não aceita conceber-se como uma república que existe para seus cidadãos. Quase um quarto deles não é considerado judeu e, de acordo com o espírito de suas leis, esse estado não lhes pertence. Ao mesmo tempo, Israel se apresenta como o estado dos judeus do mundo todo, mesmo que não eles não sejam mais refugiados perseguidos, e sim cidadãos com plenos direitos, vivendo como iguais nos países onde residem. Em outras palavras, um etnocentrismo sem fronteiras serve de justificativa para uma severa discriminação ao invocar o mito da nação eterna, reconstituída para se reunir na “terra dos antepassados”.
*
Escrever uma nova história judaica, para além do prisma sionista, não é tarefa fácil. A luz que se refrata ao passar por esse prisma se transforma, insistentemente, em cores etnocêntricas. Mas, se os judeus sempre formaram comunidades religiosas em diversos lugares e elas foram, com freqüência, constituídas pela conversão, obviamente não existe um éthnos portador de uma mesma origem, de um povo errante que teria se deslocado ao longo de 20 séculos.
Sabemos que o desenvolvimento de toda historiografia — e, de maneira geral, as da modernidade — passa pela invenção do conceito de nação, que ocupou milhões de seres humanos nos séculos 19 e 20.
*
Recentemente, porém, esses sonhos começaram a ruir. Cada vez mais pesquisadores analisam, dissecam e desconstroem os grandes relatos nacionais e, principalmente, os mitos da origem comum, caros aos cronistas do passado. Certamente os pesadelos identitários de ontem darão espaço, amanhã, a outros sonhos de identidade. Assim como toda personalidade é feita de identidades fluidas e variadas, a história também é uma identidade em movimento.
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[1] Texto fundador do judaísmo, a Torá é composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco: Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
[2] Cf. David ben Gurion e Yitzhak ben Zvi, Eretz Israel no passado e no presente (1918, em ídiche), Jerusalém, Yitzhak ben Zvi, 1980 (em hebraico), e Yitzhak ben Zvi, Nossa população no país (em hebraico), Varsóvia, O Comitê Executivo da União da Juventude e o Fundo Nacional Judeu, 1929.
[3] A Mixná, considerada como a primeira obra de literatura rabínica, foi concluída no século 2 d.C. O Talmude sintetiza o conjunto dos debates rabínicos referindo-se à lei, aos costumes e à história dos judeus. Há dois Talmudes: o da Palestina, escrito entre os séculos 3 e 5, e o da Babilônia, concluído no fim do século 5.
Shlomo Sand
Qualquer israelense sabe que o povo judeu existe desde a entrega da Torá [1]no monte Sinai e se considera seu descendente direto e exclusivo. Todos estão convencidos de que os judeus saíram do Egito e fixaram-se na Terra Prometida, onde edificaram o glorioso reino de Davi e Salomão, posteriormente dividido entre Judéia e Israel. E ninguém ignora o fato de que esse povo conheceu o exílio em duas ocasiões: depois da destruição do Primeiro Templo, no século 6 a.C., e após o fim do Segundo Templo, em 70 d.C.
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Foram quase 2 mil anos de errância desde então. A tribulação levou-os ao Iêmen, ao Marrocos, à Espanha, à Alemanha, à Polônia e até aos confins da Rússia. Felizmente, eles sempre conseguiram preservar os laços de sangue entre as comunidades, tão distantes umas das outras, e mantiveram sua unicidade.
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As condições para o retorno à antiga pátria amadureceram apenas no final do século 19. O genocídio nazista, porém, impediu que milhões de judeus repovoassem naturalmente Eretz Israel, a terra de Israel, um sonho de quase vinte séculos.
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Virgem, a Palestina esperou que seu povo original regressasse para florescer novamente. A região pertencia aos judeus, e não àquela minoria desprovida de história que chegou lá por acaso. Por isso, as guerras realizadas a partir de 1948 pelo povo errante para recuperar a posse de sua terra foram justas. A oposição da população local é que era criminosa.
Virgem, a Palestina esperou que seu povo original regressasse para florescer novamente. A região pertencia aos judeus, e não àquela minoria desprovida de história que chegou lá por acaso. Por isso, as guerras realizadas a partir de 1948 pelo povo errante para recuperar a posse de sua terra foram justas. A oposição da população local é que era criminosa.
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De onde vem essa interpretação da história judaica, amplamente difundida e resumida acima?
*
Trata-se de uma obra do século 19, feita por talentosos reconstrutores do passado, cuja imaginação fértil inventou, sobre a base de pedaços da memória religiosa judaico-cristã, um encadeamento genealógico contínuo para o povo judeu. Claro, a abundante historiografia do judaísmo comporta abordagens plurais, mas as concepções essenciais elaboradas nesse período nunca foram questionadas.
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Em Israel, há departamentos acadêmicos especiais para o estudo da “história do povo judeu”. Lá prevalecem temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas.
*
Quando apareciam descobertas capazes de contradizer a imagem do passado linear, elas praticamente não tinham eco. Como um maxilar solidamente fechado, o imperativo nacional bloqueava qualquer espécie de contradição ou desvio em relação ao relato dominante. E as instâncias específicas de produção do conhecimento sobre o passado judeu contribuíram muito para essa curiosa paralisia unilateral: em Israel, os departamentos exclusivamente dedicados ao estudo da “história do povo judeu” são bastante distintos daqueles da chamada “história geral”.
Nem o debate de caráter jurídico sobre “quem é judeu” preocupou esses historiadores: para eles, é judeu todo descendente do povo forçado ao exílio há 2 mil anos.
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Esses pesquisadores “autorizados” tampouco participaram da controvérsia trazida pela revisão histórica do fim dos anos 1980. A maioria dos atores desse debate público veio de outras disciplinas ou de horizontes extra-universitários, inclusive de fora de Israel: foram sociólogos, orientalistas, lingüistas, geógrafos, especialistas em ciência política, pesquisadores em literatura e arqueólogos que formularam novas reflexões sobre o passado judaico e sionista. Dos “departamentos de história judaica” só surgiram rumores temerosos e conservadores, revestidos por uma retórica apologética baseada em idéias preconcebidas.
*
Ou seja, após 60 anos recém-completos, a historiografia de Israel amadureceu muito pouco e, aparentemente, não evoluirá em curto prazo. Porém, os fatos revelados pelas novas pesquisas colocam para todo historiador honesto questões fundamentais — ainda que surpreendentes, numa primeira abordagem.
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Considerar a Bíblia um livro de história é um dos debates. Os primeiros historiadores judeus modernos, como Isaak Markus Jost e Léopold Zunz, não encaravam o texto bíblico dessa forma, no começo do século 19. A seus olhos, o Antigo Testamento era um livro de teologia constitutivo das comunidades religiosas judaicas depois da destruição do Primeiro Templo. Foi preciso esperar até 1850 para encontrar historiadores como Heinrich Graetz, que teve uma visão “nacional” da Bíblia. A partir daí, a retirada de Abraão para Canaã, a saída do Egito e até o reinado unificado de Davi e Salomão foram transformados em relatos de um passado autenticamente nacional. Desde então, os historiadores sionistas não deixaram de reiterar essas “verdades bíblicas”, que se tornaram o alimento cotidiano da educação israelense.
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Nos anos 1980, as descobertas arqueológicas abalam os mitos fundadores. Moisés não conduziu à “terra prometida”. Não houve revolta dos escravos egípcios. O reinado suntuoso de Davi e Salomão foi inventado. A “segunda diáspora”, também
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Mas eis que, ao longo dos anos 1980, a terra treme, abalando os mitos fundadores. Novas descobertas arqueológicas contradizem a possibilidade de um grande êxodo no século 13 antes da nossa era. Da mesma forma, Moisés não poderia ter feito os hebreus saírem do Egito, nem tê-los conduzido à “terra prometida” — pelo simples fato de que, naquela época, a região estava nas mãos dos próprios egípcios! Aliás, não existe nenhum traço de revolta de escravos no reinado dos faraós, nem de uma conquista rápida de Canaã por estrangeiros.
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Tampouco há sinal ou lembrança do suntuoso reinado de Davi e Salomão. As descobertas da década passada mostram a existência de dois pequenos reinos: Israel, o mais potente; e a Judéia, cujos habitantes não sofreram exílio no século 6 a.C. Apenas as elites políticas e intelectuais tiveram de se instalar na Babilônia, e foi desse encontro decisivo com os cultos persas que nasceu o monoteísmo judaico.
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E o exílio do ano 70 d.C. teria efetivamente acontecido?
*
Paradoxalmente, esse “evento fundador” da história dos judeus, de onde a “diáspora” tira sua origem, não rendeu sequer um trabalho de pesquisa. E por uma razão bem prosaica: os romanos nunca exilaram povo nenhum em toda a porção oriental do Mediterrâneo. Com exceção dos prisioneiros reduzidos à escravidão, os habitantes da Judéia continuaram a viver em suas terras mesmo após a destruição do Segundo Templo.
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Uma parte deles se converteu ao cristianismo no século 4, enquanto a maioria aderiu ao Islã, durante a conquista árabe do século 7. E os pensadores sionistas não ignoravam isso: tanto Yitzhak ben Zvi, que seria presidente de Israel, quanto David ben Gurion, fundador do país, escreveram sobre isso até 1929, ano da grande revolta palestina.
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Ambos mencionam, em várias ocasiões, o fato de que os camponeses da Palestina eram os descendentes dos habitantes da antiga Judéia [2].
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O êxito da religião de Jesus não colocou fim ao judaísmo. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Após o século 7, berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica
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Mas, na falta de um exílio a partir da Palestina romanizada, de onde vieram os judeus que povoaram o perímetro do Mediterrâneo desde a Antigüidade? Por trás da cortina da historiografia nacional, esconde-se uma surpreendente realidade histórica: do levante dos macabeus, no século 2 a.C., à revolta de Bar Kokhba, no século 2 d.C., o judaísmo foi a primeira religião prosélita. Nesse período, a dinastia dos hasmoneus converteu à força os idumeus do sul da Judéia e os itureus da Galiléia, anexando-os ao “povo de Israel”. Partindo desse reino judeu-helenista, o judaísmo se espalhou por todo o Oriente Médio e pelo perímetro mediterrâneo. No primeiro século de nossa era surgiu o reinado judeu de Adiabena, no território do atual Curdistão, e a ele seguiram-se alguns outros com as mesmas características.
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Os escritos de Flávio Josefo são apenas um dos testemunhos do ardor prosélito dos judeus: de Horácio a Sêneca, de Juvenal a Tácito, vários escritores latinos expressaram seu temor sobre a prática da conversão, autorizada pela Mixná e pelo Talmude [3].
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No começo do século 4, o êxito da religião de Jesus não colocou fim à expansão do judaísmo, mas empurrou seu proselitismo para as margens do mundo cultural cristão. Cem anos depois, surgiu o vigoroso reino judeu de Himiar, onde atualmente está o Iêmen. Seus descendentes mantiveram a fé judaica após a expansão do Islã e preservam-na até os dias de hoje. Da mesma forma, os cronistas árabes nos contam sobre a existência de tribos berberes judaizadas: contra a pressão árabe sobre a África do Norte, no século 7, surgiu a figura lendária da rainha judia Dihya-el-Kahina. Em seguida, esses berberes judaizados participaram da conquista da Península Ibérica e estabeleceram ali os fundamentos da simbiose particular entre judeus e muçulmanos, característica da cultura hispano-arábe.
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A conversão em massa mais significativa ocorreu, no entanto, entre o mar Negro e o mar Cáspio, no imenso reino Cazar do século 8. A expansão do judaísmo do Cáucaso até as terras que hoje pertencem à Ucrânia engendrou várias comunidades que seriam expulsas para o Leste europeu pelas invasões mongóis do século 13. Lá, os judeus vindos das regiões eslavas do sul e dos atuais territórios alemães estabeleceram as bases da grande cultura ídiche [4].
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Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro
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Esses relatos sobre as origens plurais dos judeus figuraram, de forma mais ou menos hesitante, na historiografia sionista até o início dos anos 1960. Depois disso, foram progressivamente marginalizados e, por fim, desapareceram totalmente da memória pública israelense. Afinal, os conquistadores de Jerusalém em 1967 deveriam ser os descendentes diretos de seu reinado mítico, e não de guerreiros berberes ou cavaleiros cazares. Com isso, os judeus assumiram a figura de éthnos específico que, depois de 2 mil anos de exílio e errância, voltava para a sua capital.
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E os defensores desse relato linear e indivisível não mobilizam apenas o ensino de história: eles convocam igualmente a biologia. Desde os anos 1970, uma sucessão de pesquisas “científicas” israelenses se esforça para demonstrar, por todos os meios, a proximidade genética dos judeus do mundo inteiro. A “pesquisa sobre as origens das populações” representa hoje um campo legítimo e popular da biologia molecular, e o cromossomo Y masculino ganhou um lugar de honra ao lado de uma Clio judia na busca desenfreada pela unicidade do “povo eleito”.
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Essa concepção histórica constitui a base da política identitária do estado de Israel e é exatamente seu ponto fraco. Ela se presta efetivamente a uma definição essencialista e etnocentrista do judaísmo, alimentando uma segregação que mantém a distância entre judeus e não-judeus.
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Israel, 60 anos depois de sua fundação, não aceita conceber-se como uma república que existe para seus cidadãos. Quase um quarto deles não é considerado judeu e, de acordo com o espírito de suas leis, esse estado não lhes pertence. Ao mesmo tempo, Israel se apresenta como o estado dos judeus do mundo todo, mesmo que não eles não sejam mais refugiados perseguidos, e sim cidadãos com plenos direitos, vivendo como iguais nos países onde residem. Em outras palavras, um etnocentrismo sem fronteiras serve de justificativa para uma severa discriminação ao invocar o mito da nação eterna, reconstituída para se reunir na “terra dos antepassados”.
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Escrever uma nova história judaica, para além do prisma sionista, não é tarefa fácil. A luz que se refrata ao passar por esse prisma se transforma, insistentemente, em cores etnocêntricas. Mas, se os judeus sempre formaram comunidades religiosas em diversos lugares e elas foram, com freqüência, constituídas pela conversão, obviamente não existe um éthnos portador de uma mesma origem, de um povo errante que teria se deslocado ao longo de 20 séculos.
Sabemos que o desenvolvimento de toda historiografia — e, de maneira geral, as da modernidade — passa pela invenção do conceito de nação, que ocupou milhões de seres humanos nos séculos 19 e 20.
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Recentemente, porém, esses sonhos começaram a ruir. Cada vez mais pesquisadores analisam, dissecam e desconstroem os grandes relatos nacionais e, principalmente, os mitos da origem comum, caros aos cronistas do passado. Certamente os pesadelos identitários de ontem darão espaço, amanhã, a outros sonhos de identidade. Assim como toda personalidade é feita de identidades fluidas e variadas, a história também é uma identidade em movimento.
*
[1] Texto fundador do judaísmo, a Torá é composta pelos cinco primeiros livros da Bíblia, ou Pentateuco: Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
[2] Cf. David ben Gurion e Yitzhak ben Zvi, Eretz Israel no passado e no presente (1918, em ídiche), Jerusalém, Yitzhak ben Zvi, 1980 (em hebraico), e Yitzhak ben Zvi, Nossa população no país (em hebraico), Varsóvia, O Comitê Executivo da União da Juventude e o Fundo Nacional Judeu, 1929.
[3] A Mixná, considerada como a primeira obra de literatura rabínica, foi concluída no século 2 d.C. O Talmude sintetiza o conjunto dos debates rabínicos referindo-se à lei, aos costumes e à história dos judeus. Há dois Talmudes: o da Palestina, escrito entre os séculos 3 e 5, e o da Babilônia, concluído no fim do século 5.
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segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A Explicação
Uma vez escrevi sobre a informatização no espiritismo – tinha lido em algum lugar que os computadores substituiriam os médiuns – e, como esperava, recebi algumas cartas de protesto contra o comentário, considerado desrespeitoso.
Está certo, deve-se respeitar a crença dos outros. Talvez a descrença seja apenas uma falta de imaginação. São tantas, tão variadas e tão literariamente atraentes as explicações metafísicas sobre o que, afinal, nós estamos fazendo neste mundo e o que nos espera no outro que não crer em nada, longe de ser uma atitude racional e superior, é uma forma de burrice.
De não saber o que se está perdendo. O negócio é ser pós-moderno e desistir conscientemente do racionalismo, pois, se as explicações finais são tão impossíveis quanto as utopias – e a própria física, quanto mais descobre sobre o mundo, mais perplexa fica –, então o negócio é voltar à mágica e ao deslumbramento primitivo, que são muito mais divertidos.
É verdade que eu sempre achei a explicação de que não há explicação nenhuma, ou pelo menos nenhuma que o cérebro humano entenderia, a mais fantástica de todas, mas reconheço que é um sumidouro. Não a recomendo. Toda a força, portanto, à imaginação, a todas as escatologias, a todas as seitas e a todos os santos. Tudo se resume naquela música – ou é apenas uma frase? – do John Lennon, Whatever Gets You Through The Night. O que ajudar você a atravessar a noite, está certo. É difícil lidar com toda essa herança que a gente recebe junto com um corpo e uma mente, uma vida finita num universo infinito, sem nem um manual de instrução. No escuro, todas as respostas são válidas, todas as crenças são respeitáveis.
Eu, por exemplo, estou desenvolvendo a tese de que a explicação de tudo está na alcachofra. Ainda não sei bem onde isto vai me levar, mas sinto que estou perto de uma revelação. Deus é uma alcachofra. Quando desenvolver melhor a idéia, volto ao assunto.
Está certo, deve-se respeitar a crença dos outros. Talvez a descrença seja apenas uma falta de imaginação. São tantas, tão variadas e tão literariamente atraentes as explicações metafísicas sobre o que, afinal, nós estamos fazendo neste mundo e o que nos espera no outro que não crer em nada, longe de ser uma atitude racional e superior, é uma forma de burrice.
De não saber o que se está perdendo. O negócio é ser pós-moderno e desistir conscientemente do racionalismo, pois, se as explicações finais são tão impossíveis quanto as utopias – e a própria física, quanto mais descobre sobre o mundo, mais perplexa fica –, então o negócio é voltar à mágica e ao deslumbramento primitivo, que são muito mais divertidos.
É verdade que eu sempre achei a explicação de que não há explicação nenhuma, ou pelo menos nenhuma que o cérebro humano entenderia, a mais fantástica de todas, mas reconheço que é um sumidouro. Não a recomendo. Toda a força, portanto, à imaginação, a todas as escatologias, a todas as seitas e a todos os santos. Tudo se resume naquela música – ou é apenas uma frase? – do John Lennon, Whatever Gets You Through The Night. O que ajudar você a atravessar a noite, está certo. É difícil lidar com toda essa herança que a gente recebe junto com um corpo e uma mente, uma vida finita num universo infinito, sem nem um manual de instrução. No escuro, todas as respostas são válidas, todas as crenças são respeitáveis.
Eu, por exemplo, estou desenvolvendo a tese de que a explicação de tudo está na alcachofra. Ainda não sei bem onde isto vai me levar, mas sinto que estou perto de uma revelação. Deus é uma alcachofra. Quando desenvolver melhor a idéia, volto ao assunto.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Justiça Trabalhista tem dificuldade em reconhecer racismo, diz sociólogo
A Justiça brasileira é resistente a reconhecer o racismo em processos de ação trabalhista. A conclusão é do cientista social Santiago Falluh Varellado que analisou autos de processos na Justiça Trabalhista de ações contra os cinco maiores bancos do país, por racismo, em tese de doutorado defendida no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB).
Na amostra analisada, nenhum banco foi condenado. De acordo com o pesquisador, que também é assessor do procurador-geral do Trabalho, Otavio Brito Lopes, magistrados são resistentes a qualquer pedido de reparação de direitos coletivos em processos sobre racismo, porque “não concordam que isso seja um problema". "É comum reputar o racismo a coisas muito pouco concretas”, afirma.
“É muito difícil reconhecer o racismo como problema nos votos e nas declarações orais. É muito fácil enfatizar o caráter miscigenado da sociedade brasileira.”
Na avaliação do sociólogo, o Judiciário tem dificuldade em entender a discriminação racial como fenômeno cultural e reduz o racismo a causas individuais ou a causas que não geram responsabilizações.
“São culpados a história ou o Estado brasileiro, genericamente. Há ineficiência nas punições contra as ofensas racistas”, diz Santiago Varellado que apresentará a pesquisa no próximo mês durante o 33º Encontro Anual da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a ser realizado em Caxambu (MG).
Para o pesquisador, o efeito é a “discriminação indireta” e o “racismo institucional”. Ele lembra que o Brasil já foi condenado publicamente pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2006 por “omissão das autoridades públicas” e “impunidade” em um caso de discriminação racial ocorrido em São Paulo.Apesar das dificuldades do Judiciário em reconhecer o racismo, Santiago Varellado não acredita que o Supremo Tribunal Federal (STF) acabe com as políticas afirmativas nas universidades federais. “Há um grau de consolidação considerável”, avalia.
O STF marcou para o início de março do próximo ano as audiências públicas para ouvir organizações da sociedade civil sobre a ação do Democratas contra a política de cotas da UnB.Entidades ligadas ao movimento negro e aos direitos humanos pedem ao STF para serem ouvidas no processo. No último dia 18, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental; a Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sóciocultural; o Instituto Casa da Cultura Afro-Brasileira; o Instituto de Defensores dos Direitos Humanos, e a organização não governamental Criola pediram ingresso como amicus curiae [parte interessada] na ação.
Gilberto Costa
Agência Brasil
Na amostra analisada, nenhum banco foi condenado. De acordo com o pesquisador, que também é assessor do procurador-geral do Trabalho, Otavio Brito Lopes, magistrados são resistentes a qualquer pedido de reparação de direitos coletivos em processos sobre racismo, porque “não concordam que isso seja um problema". "É comum reputar o racismo a coisas muito pouco concretas”, afirma.
“É muito difícil reconhecer o racismo como problema nos votos e nas declarações orais. É muito fácil enfatizar o caráter miscigenado da sociedade brasileira.”
Na avaliação do sociólogo, o Judiciário tem dificuldade em entender a discriminação racial como fenômeno cultural e reduz o racismo a causas individuais ou a causas que não geram responsabilizações.
“São culpados a história ou o Estado brasileiro, genericamente. Há ineficiência nas punições contra as ofensas racistas”, diz Santiago Varellado que apresentará a pesquisa no próximo mês durante o 33º Encontro Anual da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a ser realizado em Caxambu (MG).
Para o pesquisador, o efeito é a “discriminação indireta” e o “racismo institucional”. Ele lembra que o Brasil já foi condenado publicamente pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2006 por “omissão das autoridades públicas” e “impunidade” em um caso de discriminação racial ocorrido em São Paulo.Apesar das dificuldades do Judiciário em reconhecer o racismo, Santiago Varellado não acredita que o Supremo Tribunal Federal (STF) acabe com as políticas afirmativas nas universidades federais. “Há um grau de consolidação considerável”, avalia.
O STF marcou para o início de março do próximo ano as audiências públicas para ouvir organizações da sociedade civil sobre a ação do Democratas contra a política de cotas da UnB.Entidades ligadas ao movimento negro e aos direitos humanos pedem ao STF para serem ouvidas no processo. No último dia 18, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental; a Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento Sóciocultural; o Instituto Casa da Cultura Afro-Brasileira; o Instituto de Defensores dos Direitos Humanos, e a organização não governamental Criola pediram ingresso como amicus curiae [parte interessada] na ação.
Gilberto Costa
domingo, 20 de setembro de 2009
Obediência - Como fazer um crente!
Imagine que você é voluntario para um experimento científico. Quando você chega ao laboratório descobre que os pesquisadores querem que você mate uma pessoa. Você protesta, mas os cientistas são categóricos “O experimento requer que você faça isso”. Você concordaria e mataria a pessoa?
Quando perguntados sobre o que fariam em uma situação semelhante quase todos respondem prontamente que obviamente se recusariam a cometer o assassinato. Mas o famoso Experimento da Obediência de Stanley Milgram, conduzido na universidade de Yale na década de 60, revelou que essas pessoas estão erradas. Se o pedido for feito de maneira adequada, quase todos nós cederíamos e nos tornaríamos assassinos obedientes.
Milgram disse aos voluntários que eles faziam parte de um experimento para determinar o efeito da punição no aprendizado. Um dos voluntários (que era na verdade um ator em cooperação com Milgram) faria o papel do Aprendiz e tentaria memorizar uma série de palavras. Os outros voluntários (os voluntários reais) acompanhariam a leitura com um gabarito e dariam uma descarga elétrica no argüido a cada vez que ele errasse. A cada resposta errada os choques aumentavam 15 volts de potência.
O experimento começava. O aprendiz errava propositalmente e logo a potência do choque chegava a 120 volts. Nessa altura o aprendiz começava a chorar e a reclamar da dor. Em 150 volts o aprendiz começava a gritar de dor e a implorar pra que o deixassem sair. É claro que era tudo atuação, mas os voluntários, que nada sabiam, começaram a hesitar e perguntaram aos pesquisadores o que deveriam fazer. A resposta era sempre a mesma “O experimento requer que você continue”.
Milgram não tinha nenhum interesse nos efeitos da punição no aprendizado. O que ele queria na verdade era saber quanto tempo as pessoas demorariam para se recusar a apertar o botão de choque. Será que permaneceriam obedientes à autoridade dos pesquisadores a ponto de matar alguém?
Para a surpresa de Milgram, mesmo podendo ouvir os gritos agonizantes do aprendiz que vinha da sala ao lado, dois terços dos voluntários continuaram a pressionar o botão até atingir a potência máxima de 450 volts, quando o aprendiz caiu em um silencio assustador, aparentemente morto.
Alguns dos voluntários tremiam e suavam, enquanto alguns riam histericamente, mas continuaram a apertar o botão. Mais perturbador ainda: quando os voluntários não podiam ver nem ouvir o aprendiz a cooperação era de quase 100%. O que os olhos não vêem o coração não sente, afinal.
Posteriormente Milgram comentou “Eu diria, com base em milhares de pessoas que observei durante os experimentos e na minha própria intuição, que se um sistema de campos de extermínio como os da Alemanha nazista fosse implantando nos Estados Unidos, seria possível encontrar trabalhadores e encarregados pelo seu funcionamento em qualquer cidade de médio porte do país”.
Quando perguntados sobre o que fariam em uma situação semelhante quase todos respondem prontamente que obviamente se recusariam a cometer o assassinato. Mas o famoso Experimento da Obediência de Stanley Milgram, conduzido na universidade de Yale na década de 60, revelou que essas pessoas estão erradas. Se o pedido for feito de maneira adequada, quase todos nós cederíamos e nos tornaríamos assassinos obedientes.
Milgram disse aos voluntários que eles faziam parte de um experimento para determinar o efeito da punição no aprendizado. Um dos voluntários (que era na verdade um ator em cooperação com Milgram) faria o papel do Aprendiz e tentaria memorizar uma série de palavras. Os outros voluntários (os voluntários reais) acompanhariam a leitura com um gabarito e dariam uma descarga elétrica no argüido a cada vez que ele errasse. A cada resposta errada os choques aumentavam 15 volts de potência.
O experimento começava. O aprendiz errava propositalmente e logo a potência do choque chegava a 120 volts. Nessa altura o aprendiz começava a chorar e a reclamar da dor. Em 150 volts o aprendiz começava a gritar de dor e a implorar pra que o deixassem sair. É claro que era tudo atuação, mas os voluntários, que nada sabiam, começaram a hesitar e perguntaram aos pesquisadores o que deveriam fazer. A resposta era sempre a mesma “O experimento requer que você continue”.
Milgram não tinha nenhum interesse nos efeitos da punição no aprendizado. O que ele queria na verdade era saber quanto tempo as pessoas demorariam para se recusar a apertar o botão de choque. Será que permaneceriam obedientes à autoridade dos pesquisadores a ponto de matar alguém?
Para a surpresa de Milgram, mesmo podendo ouvir os gritos agonizantes do aprendiz que vinha da sala ao lado, dois terços dos voluntários continuaram a pressionar o botão até atingir a potência máxima de 450 volts, quando o aprendiz caiu em um silencio assustador, aparentemente morto.
Alguns dos voluntários tremiam e suavam, enquanto alguns riam histericamente, mas continuaram a apertar o botão. Mais perturbador ainda: quando os voluntários não podiam ver nem ouvir o aprendiz a cooperação era de quase 100%. O que os olhos não vêem o coração não sente, afinal.
Posteriormente Milgram comentou “Eu diria, com base em milhares de pessoas que observei durante os experimentos e na minha própria intuição, que se um sistema de campos de extermínio como os da Alemanha nazista fosse implantando nos Estados Unidos, seria possível encontrar trabalhadores e encarregados pelo seu funcionamento em qualquer cidade de médio porte do país”.
de De Elephants on Acid, Alex Boese.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
OS MÍSSEIS DESGOVERNADOS DA RELIGIÃO
PROMETA A UM JOVEM QUE A MORTE NÃO É O FIM E ELE IRÁ, COM TODA BOA VONTADE, CAUSAR UM DESASTRE
de Richard Dawkins
de Richard Dawkins
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Um míssil com sistema de guiagem passivo corrige sua trajetória de vôo orientando-se, por exemplo, pelo calor das turbinas de um jato. Apesar de representar um grande progresso em relação a um simples projetil balístico, esse tipo de míssil não consegue localizar alvos específicos. Não poderia atingir um edifício predeterminado em Nova Iorque se for lançado de um lugar distante como Boston.
Para isso é preciso um "míssil inteligente" moderno. A tecnologia de miniaturização dos computadores permite hoje que mísseis inteligentes possam ser programados com a topografia de Manhattan e instruções para que se dirijam à torre norte do World Trade Center. Os EUA possuem mísseis com esse nível de sofisticação, como se viu na Guerra do Golfo, mas, por razões econômicas, esses mísseis estão fora do alcance de terroristas comuns, e, por razões científicas, fora do alcance de governos teocráticos. Existiria uma alternativa mais simples e barata?
Na segunda guerra mundial, antes que dispositivos eletrônicos fossem miniaturizados e baixassem de preço, o psicólogo B. F. Skinner pesquisou mísseis guiados por pombos. No experimento, o pombo ficava numa cabine minúscula, e era treinado para bicar botões de maneira a manter um determinado alvo no centro da tela; no míssil, o alvo usado seria o real.
O princípio funcionou, embora nunca tenha sido posto em prática pelas autoridades americanas. Mesmo considerando-se o custo de seu treinamento, pombos são mais baratos e mais leves do que computadores de eficiência comparável. As caixas de Skinner indicam que, após um treinamento com slides coloridos, o pombo poderia guiar um míssil em direção a um marco arquitetônico no sul da ilha de Manhattan. O pombo não tem idéia alguma de que está guiando um míssil. Prossegue bicando dois retângulos altos na tela e, de tempos em tempos, recebe a recompensa na forma de comida. O processo continua até .... o oblívio.
Pombos podem fazer o papel de um sistema embarcado de guiagem barato e descartável, mas há que se considerar o custo do próprio míssil. Jamais um míssil com o poder de destruição necessário conseguiria penetrar o espaço aéreo americano sem ser interceptado. Para isso é preciso um míssil que não possa ser reconhecido até que seja tarde demais. Algo assim como um grande jato comercial, trazendo a marca inofensiva de uma companhia de aviação conhecida e enorme quantidade de combustível. Essa é a parte fácil. Mas como contrabandear para dentro da cabine do piloto o sistema de guiagem necessário? Não é razoável esperar que pilotos entreguem o assento esquerdo a um pombo ou a um computador.
Que tal usar homens em vez de pombos como sistema de guiagem embarcado? Homens são tão numerosos quanto pombos, seus cérebros não são muito mais caros e, para muitas tarefas, chegam a ser superiores. Seres humanos têm um histórico comprovado de seqüestro de aviões pelo uso de ameaças, que funcionam porque os pilotos legítimos prezam a própria vida e a vida de seus passageiros.
Porém, assumir que os seqüestradores também valorizem a própria vida e agirão racionalmente para preservá-la só funciona com módulos de guiagem que tenham instinto de auto-preservação. Se o avião for seqüestrado por um homem armado que, embora preparado para enfrentar riscos, deseje continuar vivendo, ainda há espaço para a negociação. Um piloto racional atende os desejos do seqüestrador, leva o avião ao solo, pede comida para os passageiros e deixa as negociações para pessoas treinadas em negociar.
O problema com sistemas de guiagem humanos é exatamente esse. Ao contrário da versão pombo, eles sabem que o sucesso da missão culminará em sua própria destruição. Seria possível desenvolver um sistema biológico de guiagem que combinasse a natureza obediente e descartável do pombo ao engenho e habilidade de infiltrar-se insidiosamente do homem? O que é preciso, em suma, é um ser humano que não se importe de explodir. Esse seria o sistema de guiagem embarcado perfeito. Entusiastas do suicídio, no entanto, não são fáceis de se encontrar. Mesmo pacientes terminais de câncer podem perder a coragem no último instante antes da colisão.
Será que poderíamos utilizar seres humanos normais e persuadí-los a acreditar que não morrerão em conseqüência de atirar um avião em vôo contra um arranha-céu? Até parece! Ninguém seria tão estúpido! Mas, espere, ouça a minha idéia - é meio maluca, mas pode ser que funcione. Considerando que é certeza que morrerão, será que não poderíamos convencê-los a acreditar que viverão novamente após o ato? Tenha paciência! Não!, escute, pode ser que funcione. Oferecemo-lhes um atalho para o Grande Oásis no Céu, aquele sempre refrescado por fontes eternas, pois jamais atrairíamos o tipo de jovem que queremos com harpas e asas de anjo. Temos de dizer-lhes que os mártires receberão a recompensa especial de 72 noivas virgens, todas interessadas e exclusivas.
Será que cairiam nessa? Sim. Jovens do sexo masculino, inundados de testosterona, e feios demais para atrair uma mulher neste mundo, podem estar desesperados o suficiente para apostar em 72 virgens para uso privado no outro.
Parece delírio, mas vale a pena tentar. Comece a iniciá-los desde cedo. Forneça-lhes uma mitologia completa e coerente para fazer a grande mentira parecer plausível. Dê-lhes um livro sagrado e faça com que o recitem de memória. Sabe, eu acho que até poderia funcionar. Por sorte, temos em mãos um sistema exatamente assim: um método de controle da mente aperfeiçoado através dos séculos, e transmitido de geração a geração. Milhões de pessoas foram educados em sua doutrina. Chama-se religião e, por razões que um dia entenderemos, a maioria das pessoas acredita nela (na América mais do que em qualquer outro lugar, apesar da ironia passar despercebida). Tudo o que precisamos agora é reunir alguns desses fanáticos da fé e dar-lhes lições de vôo.
Leviandade? Trivialização de um horror indizível? Minha intenção é exatamente oposta; é séria e motivada por luto profundo e raiva feroz. Estou tentando chamar a atenção para o elefante na sala, esse mesmo que ninguém nota por educação ou devoção: a religião, ou, mais especificamente, o efeito depreciador que a religião tem sobre a vida humana. Não falo em depreciar a vida alheia (apesar dela também fazer isso), mas depreciar a nossa própria vida. A religião ensina a absurdidade perigosa de que a morte não é o fim.
Se a morte é o fim, pode-se esperar que um agente racional valorize a própria vida e relute em arriscá-la. Assim o mundo se torna mais seguro, como é mais seguro um avião cujo seqüestrador queira continuar vivendo. No extremo oposto, se um número significativo de pessoas convencerem-se, ou forem convencidas por seus sacerdotes, de que a morte de um mártir é o mesmo que apertar o botão do hiperespaço e ser teletransportado por um buraco-de-minhoca para outro universo, o mundo tornar-se-á um lugar mais perigoso. Principalmente se acreditarem também que o outro universo é um refúgio paradisíaco das tribulações do mundo real. Adicione-se a isso a crença sincera, ainda que ridícula e degradante para as mulheres, em promessas sexuais, e não será surpresa que homens jovens, ingênuos e frustrados supliquem que sejam selecionados para missões suicidas.
Não há dúvida de que o cérebro suicida e obcecado pela vida após a morte é uma arma poderosa e perigosíssima. Pode ser comparado a um míssil inteligente. Seu sistema de guiagem é superior em muitos aspectos à mais sofisticada inteligência eletrônica que se possa comprar. Ainda assim, para o cinismo de governos, organizações ou igrejas, é uma arma baratíssima.
Nossos líderes descreveram as atrocidades recentes com o chavão de costume: covardia insensata. Insensata é uma palavra que serve para descrever a vandalização de uma cabine telefônica, não para entender o que atingiu Nova Iorque no dia 11 de setembro. Os executores da ação não agiram de forma insensata, e é certo que não foram covardes. Ao contrário, reuniram inteligência e coragem com uma eficiência insana, e vale a pena tentar entender de onde veio essa coragem.
Veio da religião. Religião é também a fonte fundamental da discórdia no Oriente Médio. Foi o que motivou o uso dessa arma letal, mas essa é outra história e não é o assunto aqui. Meu tópico é a própria arma. Encher o mundo de religião, ou religiões do tipo abraâmico, é como forrar as ruas de armas carregadas. Não se surpreendam se forem usadas.
***
Publicado no The Guardian, sábado, 15 de setembro de 2001.
Richard Dawkins é professor de entendimento público da ciência na Universidade de Oxford, e autor de "O Gene Egoísta", "A Escalada do Monte Improvável" e "Desvendando o Arco-Íris".
Para isso é preciso um "míssil inteligente" moderno. A tecnologia de miniaturização dos computadores permite hoje que mísseis inteligentes possam ser programados com a topografia de Manhattan e instruções para que se dirijam à torre norte do World Trade Center. Os EUA possuem mísseis com esse nível de sofisticação, como se viu na Guerra do Golfo, mas, por razões econômicas, esses mísseis estão fora do alcance de terroristas comuns, e, por razões científicas, fora do alcance de governos teocráticos. Existiria uma alternativa mais simples e barata?
Na segunda guerra mundial, antes que dispositivos eletrônicos fossem miniaturizados e baixassem de preço, o psicólogo B. F. Skinner pesquisou mísseis guiados por pombos. No experimento, o pombo ficava numa cabine minúscula, e era treinado para bicar botões de maneira a manter um determinado alvo no centro da tela; no míssil, o alvo usado seria o real.
O princípio funcionou, embora nunca tenha sido posto em prática pelas autoridades americanas. Mesmo considerando-se o custo de seu treinamento, pombos são mais baratos e mais leves do que computadores de eficiência comparável. As caixas de Skinner indicam que, após um treinamento com slides coloridos, o pombo poderia guiar um míssil em direção a um marco arquitetônico no sul da ilha de Manhattan. O pombo não tem idéia alguma de que está guiando um míssil. Prossegue bicando dois retângulos altos na tela e, de tempos em tempos, recebe a recompensa na forma de comida. O processo continua até .... o oblívio.
Pombos podem fazer o papel de um sistema embarcado de guiagem barato e descartável, mas há que se considerar o custo do próprio míssil. Jamais um míssil com o poder de destruição necessário conseguiria penetrar o espaço aéreo americano sem ser interceptado. Para isso é preciso um míssil que não possa ser reconhecido até que seja tarde demais. Algo assim como um grande jato comercial, trazendo a marca inofensiva de uma companhia de aviação conhecida e enorme quantidade de combustível. Essa é a parte fácil. Mas como contrabandear para dentro da cabine do piloto o sistema de guiagem necessário? Não é razoável esperar que pilotos entreguem o assento esquerdo a um pombo ou a um computador.
Que tal usar homens em vez de pombos como sistema de guiagem embarcado? Homens são tão numerosos quanto pombos, seus cérebros não são muito mais caros e, para muitas tarefas, chegam a ser superiores. Seres humanos têm um histórico comprovado de seqüestro de aviões pelo uso de ameaças, que funcionam porque os pilotos legítimos prezam a própria vida e a vida de seus passageiros.
Porém, assumir que os seqüestradores também valorizem a própria vida e agirão racionalmente para preservá-la só funciona com módulos de guiagem que tenham instinto de auto-preservação. Se o avião for seqüestrado por um homem armado que, embora preparado para enfrentar riscos, deseje continuar vivendo, ainda há espaço para a negociação. Um piloto racional atende os desejos do seqüestrador, leva o avião ao solo, pede comida para os passageiros e deixa as negociações para pessoas treinadas em negociar.
O problema com sistemas de guiagem humanos é exatamente esse. Ao contrário da versão pombo, eles sabem que o sucesso da missão culminará em sua própria destruição. Seria possível desenvolver um sistema biológico de guiagem que combinasse a natureza obediente e descartável do pombo ao engenho e habilidade de infiltrar-se insidiosamente do homem? O que é preciso, em suma, é um ser humano que não se importe de explodir. Esse seria o sistema de guiagem embarcado perfeito. Entusiastas do suicídio, no entanto, não são fáceis de se encontrar. Mesmo pacientes terminais de câncer podem perder a coragem no último instante antes da colisão.
Será que poderíamos utilizar seres humanos normais e persuadí-los a acreditar que não morrerão em conseqüência de atirar um avião em vôo contra um arranha-céu? Até parece! Ninguém seria tão estúpido! Mas, espere, ouça a minha idéia - é meio maluca, mas pode ser que funcione. Considerando que é certeza que morrerão, será que não poderíamos convencê-los a acreditar que viverão novamente após o ato? Tenha paciência! Não!, escute, pode ser que funcione. Oferecemo-lhes um atalho para o Grande Oásis no Céu, aquele sempre refrescado por fontes eternas, pois jamais atrairíamos o tipo de jovem que queremos com harpas e asas de anjo. Temos de dizer-lhes que os mártires receberão a recompensa especial de 72 noivas virgens, todas interessadas e exclusivas.
Será que cairiam nessa? Sim. Jovens do sexo masculino, inundados de testosterona, e feios demais para atrair uma mulher neste mundo, podem estar desesperados o suficiente para apostar em 72 virgens para uso privado no outro.
Parece delírio, mas vale a pena tentar. Comece a iniciá-los desde cedo. Forneça-lhes uma mitologia completa e coerente para fazer a grande mentira parecer plausível. Dê-lhes um livro sagrado e faça com que o recitem de memória. Sabe, eu acho que até poderia funcionar. Por sorte, temos em mãos um sistema exatamente assim: um método de controle da mente aperfeiçoado através dos séculos, e transmitido de geração a geração. Milhões de pessoas foram educados em sua doutrina. Chama-se religião e, por razões que um dia entenderemos, a maioria das pessoas acredita nela (na América mais do que em qualquer outro lugar, apesar da ironia passar despercebida). Tudo o que precisamos agora é reunir alguns desses fanáticos da fé e dar-lhes lições de vôo.
Leviandade? Trivialização de um horror indizível? Minha intenção é exatamente oposta; é séria e motivada por luto profundo e raiva feroz. Estou tentando chamar a atenção para o elefante na sala, esse mesmo que ninguém nota por educação ou devoção: a religião, ou, mais especificamente, o efeito depreciador que a religião tem sobre a vida humana. Não falo em depreciar a vida alheia (apesar dela também fazer isso), mas depreciar a nossa própria vida. A religião ensina a absurdidade perigosa de que a morte não é o fim.
Se a morte é o fim, pode-se esperar que um agente racional valorize a própria vida e relute em arriscá-la. Assim o mundo se torna mais seguro, como é mais seguro um avião cujo seqüestrador queira continuar vivendo. No extremo oposto, se um número significativo de pessoas convencerem-se, ou forem convencidas por seus sacerdotes, de que a morte de um mártir é o mesmo que apertar o botão do hiperespaço e ser teletransportado por um buraco-de-minhoca para outro universo, o mundo tornar-se-á um lugar mais perigoso. Principalmente se acreditarem também que o outro universo é um refúgio paradisíaco das tribulações do mundo real. Adicione-se a isso a crença sincera, ainda que ridícula e degradante para as mulheres, em promessas sexuais, e não será surpresa que homens jovens, ingênuos e frustrados supliquem que sejam selecionados para missões suicidas.
Não há dúvida de que o cérebro suicida e obcecado pela vida após a morte é uma arma poderosa e perigosíssima. Pode ser comparado a um míssil inteligente. Seu sistema de guiagem é superior em muitos aspectos à mais sofisticada inteligência eletrônica que se possa comprar. Ainda assim, para o cinismo de governos, organizações ou igrejas, é uma arma baratíssima.
Nossos líderes descreveram as atrocidades recentes com o chavão de costume: covardia insensata. Insensata é uma palavra que serve para descrever a vandalização de uma cabine telefônica, não para entender o que atingiu Nova Iorque no dia 11 de setembro. Os executores da ação não agiram de forma insensata, e é certo que não foram covardes. Ao contrário, reuniram inteligência e coragem com uma eficiência insana, e vale a pena tentar entender de onde veio essa coragem.
Veio da religião. Religião é também a fonte fundamental da discórdia no Oriente Médio. Foi o que motivou o uso dessa arma letal, mas essa é outra história e não é o assunto aqui. Meu tópico é a própria arma. Encher o mundo de religião, ou religiões do tipo abraâmico, é como forrar as ruas de armas carregadas. Não se surpreendam se forem usadas.
***
Publicado no The Guardian, sábado, 15 de setembro de 2001.
Richard Dawkins é professor de entendimento público da ciência na Universidade de Oxford, e autor de "O Gene Egoísta", "A Escalada do Monte Improvável" e "Desvendando o Arco-Íris".
Visão
Nada separa mais os homens que a fé. A fé é a ultimação e a perpetuação da ignorância. (walington jr.)
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
10 mitos – e 10 verdades – sobre o Ateísmo
Várias pesquisas indicam que o termo “ateísmo” tornou-se tão estigmatizado nos EUA que ser ateu virou um total impedimento para uma carreira política (de um jeito que sendo negro, muçulmano ou homossexual não é). De acordo com uma pesquisa recente da revista Newsweek, apenas 37% dos americanos votariam num ateu qualificado para o cargo de presidente.
Ateus geralmente são tidos como intolerantes, imorais, deprimidos, cegos para a beleza da natureza e dogmaticamente fechados para a evidência do sobrenatural.
Até mesmo John Locke, um dos maiores patricarcas do Iluminismo, acreditava que o ateísmo “não deveria ser tolerado”porque, ele disse, “as promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou santidade.”
Isso foi a mais de 300 anos. Mas nos Estados Unidos hoje, pouca coisa parece ter mudado. Impressionantes 87% da população americana alegam “nunca duvidar” da existência de Deus; menos de 10% se identificam como ateus – e suas reputações parecem estar deteriorando.
Tendo em vista que sabemos que os ateus figuram entre as pessoas mais inteligentes e cientificamente alfabetizadas em qualquer sociedade, é importante derrubarmos os mitos que os impedem de participar mais ativamente do nosso discurso nacional.
1) Ateus acreditam que a vida não tem sentido.
Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam freqüentemente com a falta de sentido na vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna além da vida. Ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo. Ateus tendem a achar que este medo da insignificância é... bem... insignificante.
2) Ateus são responsáveis pelos maiores crimes da história da humanidade.
Pessoas de fé geralmente alegam que os crimes de Hitler, Stalin, Mao e Pol Pot foram produtos inevitáveis da descrença. O problema com o fascismo e o comunismo, entretanto, não é que eles eram críticos demais da religião; o problema é que eles era muito parecidos com religiões. Tais regimes eram dogmáticos ao extremo e geralmente originam cultos a personalidades que são indistinguíveis da adoração religiosa. Auschwitz, o gulag e os campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando humanos rejeitam os dogmas religiosos; são exemplos de dogmas políticos, raciais e nacionalistas andando à solta. Não houve nenhuma sociedade na história humana que tenha sofrido porque seu povo ficou racional demais.
3) Ateus são dogmáticos.
Judeus, cristãos e muçulmanos afirmam que suas escrituras eram tão prescientes das necessidades humanas que só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente uma pessoa que considerou esta afirmação, leu os livros e descobriu que ela é ridícula. Não é preciso ter fé ou ser dogmático para rejeitar crenças religiosas infundadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71) uma vez: “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu”.
4) Ateus acham que tudo no universo surgiu por acaso.
Ninguém sabe como ou por que o universo surgiu. Aliás, não está inteiramente claro se nós podemos falar coerentemente sobre o “começo” ou “criação” do universo, pois essas idéias invocam o conceito de tempo, e estamos falando sobre o surgimento do próprio espaço-tempo.
A noção de que os ateus acreditam que tudo tenha surgido por acaso é também usada como crítica à teoria da evolução darwiniana. Como Richard Dawkins explica em seu maravilhoso livro, “A Ilusão de Deus”, isto representa uma grande falta de entendimento da teoria evolutiva. Apesar de não sabermos precisamente como os processos químicos da Terra jovem originaram a biologia, sabemos que a diversidade e a complexidade que vemos no mundo vivo não é um produto do mero acaso. Evolução é a combinação de mutações aleatórias e da seleção natural. Darwin chegou ao termo “seleção natural” em analogia ao termo “seleção artificial” usadas por criadores de gado. Em ambos os casos, seleção demonstra um efeito altamente não-aleatório no desenvolvimento de quaisquer espécies.
5) Ateísmo não tem conexão com a ciência.
Apesar de ser possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus – alguns cientistas parecem conseguir isto –, não há dúvida alguma de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população americana como exemplo: A maioria das pesquisas mostra que cerca de 90% do público geral acreditam em um Deus pessoal; entretanto, 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam. Isto sugere que há poucos modos de pensamento menos apropriados para a fé religiosa do que a ciência.
6) Ateus são arrogantes.
Quando os cientistas não sabem alguma coisa – como por que o universo veio a existir ou como a primeira molécula auto-replicante se formou –, eles admitem. Na ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrado com freqüência em como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber de fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.
7) Ateus são fechados para a experiência espiritual.
Nada impede um ateu de experimentar o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor; ateus podem valorizar estas experiências e buscá-las regularmente. O que os ateus não tendem a fazer são afirmações injustificadas (e injustificáveis) sobre a natureza da realidade com base em tais experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor ao ler a Bíblia e rezar para Jesus. O que isso prova? Que certas disciplinas de atenção e códigos de conduta podem ter um efeito profundo na mente humana. Tais experiências provam que Jesus é o único salvador da humanidade? Nem mesmo remotamente – porque hindus, budistas, muçulmanos e até mesmo ateus vivenciam experiências similares regularmente.
Não há, na verdade, um único cristão na Terra que possa estar certo de que Jesus sequer usava uma barba, muito menos de que ele nasceu de uma virgem ou ressuscitou dos mortos. Este não é o tipo de alegação que experiências espirituais possam provar.
8) Ateus acreditam que não há nada além da vida e do conhecimento humano.
Ateus são livres para admitir os limites do conhecimento humano de uma maneira que nem os religiosos podem. É óbvio que nós não entendemos completamente o universo; mas é ainda mais óbvio que nem a Bíblia e nem o Corão demonstram o melhor conhecimento dele. Nós não sabemos se há vida complexa em algum outro lugar do cosmos, mas pode haver. E, se há, tais seres podem ter desenvolvido um conhecimento das leis naturais que vastamente excede o nosso. Ateus podem livremente imaginar tais possibilidades. Eles também podem admitir que se extraterrestres brilhantes existirem, o conteúdo da Bíblia e do Corão lhes será menos impressionante do que são para os humanos ateus.
Do ponto de vista ateu, as religiões do mundo banalizam completamente a real beleza e imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.
9) Ateus ignoram o fato de que as religiões são extremamente benéficas para a sociedade.
Aqueles que enfatizam os bons efeitos da religião nunca parecem perceber que tais efeitos falham em demonstrar a verdade de qualquer doutrina religiosa. É por isso que temos termos como “wishful thinking” e “auto-enganação”. Há uma profunda diferença entre uma ilusão consoladora e a verdade.
De qualquer maneira, os bons efeitos da religião podem ser certamente questionados. Na maioria das vezes, parece que as religiões dão péssimos motivos para se agir bem, quando temos bons motivos atualmente disponíveis. Pergunte a si mesmo: o que é mais moral? Ajudar os pobres por se preocupar com seus sofrimentos, ou ajudá-los porque acha que o criador do universo quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?
10) Ateísmo não fornece nenhuma base para a moralidade.
Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Corão – já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais que são (até certo ponto) embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.
Nós fizemos um progresso moral considerável ao longo dos anos, e não fizemos esse progresso lendo a Bíblia ou o Corão mais atentamente. Ambos os livros aceitam a prática de escravidão – e ainda assim seres humanos civilizados agora reconhecem que escravidão é uma abominação. Tudo que há de bom nas escrituras – como a regra de ouro, por exemplo – pode ser apreciado por seu valor ético, sem a crença de que isso nos tenha sido transmitido pelo criador do universo.
Ateus geralmente são tidos como intolerantes, imorais, deprimidos, cegos para a beleza da natureza e dogmaticamente fechados para a evidência do sobrenatural.
Até mesmo John Locke, um dos maiores patricarcas do Iluminismo, acreditava que o ateísmo “não deveria ser tolerado”porque, ele disse, “as promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, para um ateu não podem ter segurança ou santidade.”
Isso foi a mais de 300 anos. Mas nos Estados Unidos hoje, pouca coisa parece ter mudado. Impressionantes 87% da população americana alegam “nunca duvidar” da existência de Deus; menos de 10% se identificam como ateus – e suas reputações parecem estar deteriorando.
Tendo em vista que sabemos que os ateus figuram entre as pessoas mais inteligentes e cientificamente alfabetizadas em qualquer sociedade, é importante derrubarmos os mitos que os impedem de participar mais ativamente do nosso discurso nacional.
1) Ateus acreditam que a vida não tem sentido.
Pelo contrário: são os religiosos que se preocupam freqüentemente com a falta de sentido na vida e imaginam que ela só pode ser redimida pela promessa da felicidade eterna além da vida. Ateus tendem a ser bastante seguros quanto ao valor da vida. A vida é imbuída de sentido ao ser vivida de modo real e completo. Nossas relações com aqueles que amamos têm sentido agora; não precisam durar para sempre para tê-lo. Ateus tendem a achar que este medo da insignificância é... bem... insignificante.
2) Ateus são responsáveis pelos maiores crimes da história da humanidade.
Pessoas de fé geralmente alegam que os crimes de Hitler, Stalin, Mao e Pol Pot foram produtos inevitáveis da descrença. O problema com o fascismo e o comunismo, entretanto, não é que eles eram críticos demais da religião; o problema é que eles era muito parecidos com religiões. Tais regimes eram dogmáticos ao extremo e geralmente originam cultos a personalidades que são indistinguíveis da adoração religiosa. Auschwitz, o gulag e os campos de extermínio não são exemplos do que acontece quando humanos rejeitam os dogmas religiosos; são exemplos de dogmas políticos, raciais e nacionalistas andando à solta. Não houve nenhuma sociedade na história humana que tenha sofrido porque seu povo ficou racional demais.
3) Ateus são dogmáticos.
Judeus, cristãos e muçulmanos afirmam que suas escrituras eram tão prescientes das necessidades humanas que só poderiam ter sido registradas sob orientação de uma divindade onisciente. Um ateu é simplesmente uma pessoa que considerou esta afirmação, leu os livros e descobriu que ela é ridícula. Não é preciso ter fé ou ser dogmático para rejeitar crenças religiosas infundadas. Como disse o historiador Stephen Henry Roberts (1901-71) uma vez: “Afirmo que ambos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que você. Quando você entender por que rejeita todos os outros deuses possíveis, entenderá por que rejeito o seu”.
4) Ateus acham que tudo no universo surgiu por acaso.
Ninguém sabe como ou por que o universo surgiu. Aliás, não está inteiramente claro se nós podemos falar coerentemente sobre o “começo” ou “criação” do universo, pois essas idéias invocam o conceito de tempo, e estamos falando sobre o surgimento do próprio espaço-tempo.
A noção de que os ateus acreditam que tudo tenha surgido por acaso é também usada como crítica à teoria da evolução darwiniana. Como Richard Dawkins explica em seu maravilhoso livro, “A Ilusão de Deus”, isto representa uma grande falta de entendimento da teoria evolutiva. Apesar de não sabermos precisamente como os processos químicos da Terra jovem originaram a biologia, sabemos que a diversidade e a complexidade que vemos no mundo vivo não é um produto do mero acaso. Evolução é a combinação de mutações aleatórias e da seleção natural. Darwin chegou ao termo “seleção natural” em analogia ao termo “seleção artificial” usadas por criadores de gado. Em ambos os casos, seleção demonstra um efeito altamente não-aleatório no desenvolvimento de quaisquer espécies.
5) Ateísmo não tem conexão com a ciência.
Apesar de ser possível ser um cientista e ainda acreditar em Deus – alguns cientistas parecem conseguir isto –, não há dúvida alguma de que um envolvimento com o pensamento científico tende a corroer, e não a sustentar, a fé. Tomando a população americana como exemplo: A maioria das pesquisas mostra que cerca de 90% do público geral acreditam em um Deus pessoal; entretanto, 93% dos membros da Academia Nacional de Ciências não acreditam. Isto sugere que há poucos modos de pensamento menos apropriados para a fé religiosa do que a ciência.
6) Ateus são arrogantes.
Quando os cientistas não sabem alguma coisa – como por que o universo veio a existir ou como a primeira molécula auto-replicante se formou –, eles admitem. Na ciência, fingir saber coisas que não se sabe é uma falha muito grave. Mas isso é o sangue vital da religião. Uma das ironias monumentais do discurso religioso pode ser encontrado com freqüência em como as pessoas de fé se vangloriam sobre sua humildade, enquanto alegam saber de fatos sobre cosmologia, química e biologia que nenhum cientista conhece. Quando consideram questões sobre a natureza do cosmos, ateus tendem a buscar suas opiniões na ciência. Isso não é arrogância. É honestidade intelectual.
7) Ateus são fechados para a experiência espiritual.
Nada impede um ateu de experimentar o amor, o êxtase, o arrebatamento e o temor; ateus podem valorizar estas experiências e buscá-las regularmente. O que os ateus não tendem a fazer são afirmações injustificadas (e injustificáveis) sobre a natureza da realidade com base em tais experiências. Não há dúvida de que alguns cristãos mudaram suas vidas para melhor ao ler a Bíblia e rezar para Jesus. O que isso prova? Que certas disciplinas de atenção e códigos de conduta podem ter um efeito profundo na mente humana. Tais experiências provam que Jesus é o único salvador da humanidade? Nem mesmo remotamente – porque hindus, budistas, muçulmanos e até mesmo ateus vivenciam experiências similares regularmente.
Não há, na verdade, um único cristão na Terra que possa estar certo de que Jesus sequer usava uma barba, muito menos de que ele nasceu de uma virgem ou ressuscitou dos mortos. Este não é o tipo de alegação que experiências espirituais possam provar.
8) Ateus acreditam que não há nada além da vida e do conhecimento humano.
Ateus são livres para admitir os limites do conhecimento humano de uma maneira que nem os religiosos podem. É óbvio que nós não entendemos completamente o universo; mas é ainda mais óbvio que nem a Bíblia e nem o Corão demonstram o melhor conhecimento dele. Nós não sabemos se há vida complexa em algum outro lugar do cosmos, mas pode haver. E, se há, tais seres podem ter desenvolvido um conhecimento das leis naturais que vastamente excede o nosso. Ateus podem livremente imaginar tais possibilidades. Eles também podem admitir que se extraterrestres brilhantes existirem, o conteúdo da Bíblia e do Corão lhes será menos impressionante do que são para os humanos ateus.
Do ponto de vista ateu, as religiões do mundo banalizam completamente a real beleza e imensidão do universo. Não é preciso aceitar nada com base em provas insuficientes para fazer tal observação.
9) Ateus ignoram o fato de que as religiões são extremamente benéficas para a sociedade.
Aqueles que enfatizam os bons efeitos da religião nunca parecem perceber que tais efeitos falham em demonstrar a verdade de qualquer doutrina religiosa. É por isso que temos termos como “wishful thinking” e “auto-enganação”. Há uma profunda diferença entre uma ilusão consoladora e a verdade.
De qualquer maneira, os bons efeitos da religião podem ser certamente questionados. Na maioria das vezes, parece que as religiões dão péssimos motivos para se agir bem, quando temos bons motivos atualmente disponíveis. Pergunte a si mesmo: o que é mais moral? Ajudar os pobres por se preocupar com seus sofrimentos, ou ajudá-los porque acha que o criador do universo quer que você o faça e o recompensará por fazê-lo ou o punirá por não fazê-lo?
10) Ateísmo não fornece nenhuma base para a moralidade.
Se uma pessoa ainda não entendeu que a crueldade é errada, não descobrirá isso lendo a Bíblia ou o Corão – já que esses livros transbordam de celebrações da crueldade, tanto humana quanto divina. Não tiramos nossa moralidade da religião. Decidimos o que é bom recorrendo a intuições morais que são (até certo ponto) embutidas em nós e refinadas por milhares de anos de reflexão sobre as causas e possibilidades da felicidade humana.
Nós fizemos um progresso moral considerável ao longo dos anos, e não fizemos esse progresso lendo a Bíblia ou o Corão mais atentamente. Ambos os livros aceitam a prática de escravidão – e ainda assim seres humanos civilizados agora reconhecem que escravidão é uma abominação. Tudo que há de bom nas escrituras – como a regra de ouro, por exemplo – pode ser apreciado por seu valor ético, sem a crença de que isso nos tenha sido transmitido pelo criador do universo.
Autor: Sam Harris
Tradução: Alenônimo
Fonte: Ateus do Brasil
Original: 10 myths – and 10 Truths – About Atheism
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Nova Teoria: “Foi Deus”
Washington, Capital – Em uma entrevista coletiva na sede da Academia Nacional de Ciências, eminentes cientistas do mundo todo fizeram uma afirmação surpreendente: “foi Deus”.
A declaração histórica foi feita pelo destacado biólogo Stephen J. Gould, autor de diversos livros sobre evolução. “Por várias gerações, nós cientistas dedicamos nossas vidas a encontrar respostas aos enigmas do universo”, disse Gould. “Agora nós finalmente compreendemos!”
A afirmação aconteceu depois de um mês de moratória na ciência que resultou de uma carta que líderes religiosos de todo o mundo mandaram a todos os cientistas conhecidos pedindo-lhes que considerassem seriamente a “hipótese divina”.
“Quando vi, joguei a carta no lixo”, disse Richard Dawkins , renomado evolucionista e autor de O Relojoeiro Cego, que estava ao lado de Gould na coletiva. “Mas depois, embora já tivesse ouvido aquelas alegações, desta vez achei que deveria levar a sério”.
A carta, assinada pelos mais diferentes líderes religiosos, como o papa João Paulo II e John Travolta, ultimava os cientistas a “parar essa atroz deidicotomia e pesar as conseqüências de seus atos”.
Depois de duas semanas, um grupo secreto de cientistas de todas as áreas reuniu-se na ANS para discutir “a hipótese divina”.
“A princípio não sabíamos por onde começar”, disse o cosmólogo Timothy Ferris. “Afinal, era radicalmente diferente de tudo que já havíamos pensado”.
“Houve muitas discussões e até alguns socos”, disse a psicóloga Susan Blackmore. “Mas o debate só começou a sério mesmo quando alguém apontou os buracos no nosso conhecimento”.
O biólogo Edward O. Wilson, ganhador de dois prêmios Pullitzer, tinha um olho roxo e explicou o que viria a seguir: “Todos já sabiam que não conhecíamos todas as respostas, então começamos a fazer a pergunta mais difícil: se não sabemos, como explicamos? No fim, ‘foi Deus’ se tornou a frase ressonante”.
De acordo com alguns relatos, o mundialmente famoso cosmólogo Stephen Hawking, preso a uma cadeira de rodas, era a única voz ecoando quando o encontro chegava ao fim no domingo. No entanto, depois de muitos telefonemas de repórteres sobre sua posição, Dawkins o conduziu para fora, com o braço esquerdo estendido, dizendo “Louvemos a Ele, louvemos a Ele, louvemos a Ele!” através de seu sintetizador de voz.
E agora que a ciência acabou, o que acontece? “A Teoria de Deus finalmente conseguiu o que os cientistas sempre buscaram: fechamento”, disse Gould. “Agora podemos prosseguir nossas vidas confiantes que todos os mistérios do universo foram resolvidos. Meus planos são cuidar do meu jardim e abrir uma loja de alimentos naturais”.
Mas nem todos os cientistas estão desistindo. “A Teoria de Deus pode ter resolvido muitos problemas, mas o próximo passo é encontrar uma Lei de Deus”, disse Ferris.
“Não há nada para se encontrar”, afirmou Wilson. “A Lei de Deus pode ser resumida em dez equações simples e todas elas estão em Êxodo 20”.
Embora os cientistas de todo mundo estejam satisfeitos, ainda não está claro como o resto do mundo vai reagir.
“Mas que não-diabos eles pensam que são, esses supostos cientistas?!?”, dizia uma carta enviada à ANS pouco antes da coletiva. Assinada pelo “Exército dos Ímpios”, um conhecido grupo de militantes ateus, a carta ameaçava “esmagar as não-almas desses cientistas por todo mundo não-criado”.
Outros, no entanto, estão bastante satisfeitos com a mudança de espírito dos cientistas. “Finalmente, depois de todo o tempo e energia que gastamos tentando derrubar o materialismo naturalista, os cientistas nos ouviram”, disse o professor de direito em Berkeley Phillip Johnson, autor de Derrotando o Darwinismo Ao Abrir Mentes.
“Estamos muito entusiasmados com as possibilidades”, disse Michael Shermer, que publica a Skeptic Magazine . “Se os cientistas podem usar a Hipótese Divina para tecer explicações, então nós também podemos: OVNIs, combustão humana espontânea, o pé-grande, abduções alienígenas... finalmente todas essas coisas que nós céticos desafiamos por anos têm agora uma explicação prática e coerente: foi Deus”.
“O relojoeiro estava cego, mas agora Ele enxerga!”, acrescentou Dawkins.
A declaração histórica foi feita pelo destacado biólogo Stephen J. Gould, autor de diversos livros sobre evolução. “Por várias gerações, nós cientistas dedicamos nossas vidas a encontrar respostas aos enigmas do universo”, disse Gould. “Agora nós finalmente compreendemos!”
A afirmação aconteceu depois de um mês de moratória na ciência que resultou de uma carta que líderes religiosos de todo o mundo mandaram a todos os cientistas conhecidos pedindo-lhes que considerassem seriamente a “hipótese divina”.
“Quando vi, joguei a carta no lixo”, disse Richard Dawkins , renomado evolucionista e autor de O Relojoeiro Cego, que estava ao lado de Gould na coletiva. “Mas depois, embora já tivesse ouvido aquelas alegações, desta vez achei que deveria levar a sério”.
A carta, assinada pelos mais diferentes líderes religiosos, como o papa João Paulo II e John Travolta, ultimava os cientistas a “parar essa atroz deidicotomia e pesar as conseqüências de seus atos”.
Depois de duas semanas, um grupo secreto de cientistas de todas as áreas reuniu-se na ANS para discutir “a hipótese divina”.
“A princípio não sabíamos por onde começar”, disse o cosmólogo Timothy Ferris. “Afinal, era radicalmente diferente de tudo que já havíamos pensado”.
“Houve muitas discussões e até alguns socos”, disse a psicóloga Susan Blackmore. “Mas o debate só começou a sério mesmo quando alguém apontou os buracos no nosso conhecimento”.
O biólogo Edward O. Wilson, ganhador de dois prêmios Pullitzer, tinha um olho roxo e explicou o que viria a seguir: “Todos já sabiam que não conhecíamos todas as respostas, então começamos a fazer a pergunta mais difícil: se não sabemos, como explicamos? No fim, ‘foi Deus’ se tornou a frase ressonante”.
De acordo com alguns relatos, o mundialmente famoso cosmólogo Stephen Hawking, preso a uma cadeira de rodas, era a única voz ecoando quando o encontro chegava ao fim no domingo. No entanto, depois de muitos telefonemas de repórteres sobre sua posição, Dawkins o conduziu para fora, com o braço esquerdo estendido, dizendo “Louvemos a Ele, louvemos a Ele, louvemos a Ele!” através de seu sintetizador de voz.
E agora que a ciência acabou, o que acontece? “A Teoria de Deus finalmente conseguiu o que os cientistas sempre buscaram: fechamento”, disse Gould. “Agora podemos prosseguir nossas vidas confiantes que todos os mistérios do universo foram resolvidos. Meus planos são cuidar do meu jardim e abrir uma loja de alimentos naturais”.
Mas nem todos os cientistas estão desistindo. “A Teoria de Deus pode ter resolvido muitos problemas, mas o próximo passo é encontrar uma Lei de Deus”, disse Ferris.
“Não há nada para se encontrar”, afirmou Wilson. “A Lei de Deus pode ser resumida em dez equações simples e todas elas estão em Êxodo 20”.
Embora os cientistas de todo mundo estejam satisfeitos, ainda não está claro como o resto do mundo vai reagir.
“Mas que não-diabos eles pensam que são, esses supostos cientistas?!?”, dizia uma carta enviada à ANS pouco antes da coletiva. Assinada pelo “Exército dos Ímpios”, um conhecido grupo de militantes ateus, a carta ameaçava “esmagar as não-almas desses cientistas por todo mundo não-criado”.
Outros, no entanto, estão bastante satisfeitos com a mudança de espírito dos cientistas. “Finalmente, depois de todo o tempo e energia que gastamos tentando derrubar o materialismo naturalista, os cientistas nos ouviram”, disse o professor de direito em Berkeley Phillip Johnson, autor de Derrotando o Darwinismo Ao Abrir Mentes.
“Estamos muito entusiasmados com as possibilidades”, disse Michael Shermer, que publica a Skeptic Magazine . “Se os cientistas podem usar a Hipótese Divina para tecer explicações, então nós também podemos: OVNIs, combustão humana espontânea, o pé-grande, abduções alienígenas... finalmente todas essas coisas que nós céticos desafiamos por anos têm agora uma explicação prática e coerente: foi Deus”.
“O relojoeiro estava cego, mas agora Ele enxerga!”, acrescentou Dawkins.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Crentes descrentes e a praga do Universo
Ao descobrirem que sou ateu algumas pessoas mudam imediatamente o comportamento.
Não necessariamente assumem uma postura belicosa. Algumas até ficam genuinamente curiosas ou interessadas. Contudo, em sua grande maioria as pessoas reagem com condescendência ou animosidade.
É interessante como algumas perguntam em tom dramático, cristão e sofrido - “como você perdeu sua fé?”. Faz-me lembrar de quando vi um amigo advogado perguntando a um cliente como ele havia perdido a perna.
A animosidade é demonstrada através de perguntas do tipo: “mas e a bíblia? E Jesus? E a beleza do mar, do universo....”. Visível também é o ceticismo dos crentes. Eles realmente acreditam que estou “passando por uma fase”, “que vou retornar e pregar a verdade da fé”, “ que tudo isso não passa de bobagem infantil”, que se trata de “pecado não confessado”, “dura cerviz” e por ai vai..
A animosidade tem outras faces também. Pois, segundo já ouvi tantas vezes, “você vai voltar por amor ou pela dor”, há uma suposição generalizada que vou sofrer de câncer, acidentes e coisas do gênero e que através da dor vou voltar meu caminhos ao “senhor”. Em alguns casos até minha prole futura entra no baile.
Digo que minha possível dor ou desespero não vai fazer o não-existente existir.
De tudo isso o que mais me irrita é a condescendência. Irrita porque pessoas irracionais (de fé) querem impor um regime de analise de meu ateísmo em bases de lógica. Querem aplicar a noção e a idéia de que meu posicionamento é resultado de falta de conhecimento ou imaturidade. É falta de conhecer os “mistérios de deus”.
Balela. Pura balela. A fé religiosa é a negação completa do raciocínio lógico. E o que nos separa dos animais é a capacidade de pensar. Obviamente estou generalizando a separação do homem dos animais. Falo, limitadamente, do ponto de vista intelectual.
Uma coisa confesso: Ser ateu é solitário e por vezes cruel. Quando li o livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago senti um nó no estomago, pois, ao completar a primeira fase do processo (do que chamo) de desintoxicação religiosa vi em que estado de sujeira, podridão e degradação estão meus companheiros seres humanos. Hoje tenho dificuldade em ver meus parentes indo à igreja e cantando, orando, rezando, dando e recebendo passes etc. É assustadoramente absurdo.
Como é possível??? Por vezes temo pelo futuro. Como seremos daqui a cem mil ou um milhão de anos? Será que estaremos aqui (no Universo)? Contudo, meu temor maior é que espalhemos esta praga destruidora que é a religião pela galáxia.
Não necessariamente assumem uma postura belicosa. Algumas até ficam genuinamente curiosas ou interessadas. Contudo, em sua grande maioria as pessoas reagem com condescendência ou animosidade.
É interessante como algumas perguntam em tom dramático, cristão e sofrido - “como você perdeu sua fé?”. Faz-me lembrar de quando vi um amigo advogado perguntando a um cliente como ele havia perdido a perna.
A animosidade é demonstrada através de perguntas do tipo: “mas e a bíblia? E Jesus? E a beleza do mar, do universo....”. Visível também é o ceticismo dos crentes. Eles realmente acreditam que estou “passando por uma fase”, “que vou retornar e pregar a verdade da fé”, “ que tudo isso não passa de bobagem infantil”, que se trata de “pecado não confessado”, “dura cerviz” e por ai vai..
A animosidade tem outras faces também. Pois, segundo já ouvi tantas vezes, “você vai voltar por amor ou pela dor”, há uma suposição generalizada que vou sofrer de câncer, acidentes e coisas do gênero e que através da dor vou voltar meu caminhos ao “senhor”. Em alguns casos até minha prole futura entra no baile.
Digo que minha possível dor ou desespero não vai fazer o não-existente existir.
De tudo isso o que mais me irrita é a condescendência. Irrita porque pessoas irracionais (de fé) querem impor um regime de analise de meu ateísmo em bases de lógica. Querem aplicar a noção e a idéia de que meu posicionamento é resultado de falta de conhecimento ou imaturidade. É falta de conhecer os “mistérios de deus”.
Balela. Pura balela. A fé religiosa é a negação completa do raciocínio lógico. E o que nos separa dos animais é a capacidade de pensar. Obviamente estou generalizando a separação do homem dos animais. Falo, limitadamente, do ponto de vista intelectual.
Uma coisa confesso: Ser ateu é solitário e por vezes cruel. Quando li o livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago senti um nó no estomago, pois, ao completar a primeira fase do processo (do que chamo) de desintoxicação religiosa vi em que estado de sujeira, podridão e degradação estão meus companheiros seres humanos. Hoje tenho dificuldade em ver meus parentes indo à igreja e cantando, orando, rezando, dando e recebendo passes etc. É assustadoramente absurdo.
Como é possível??? Por vezes temo pelo futuro. Como seremos daqui a cem mil ou um milhão de anos? Será que estaremos aqui (no Universo)? Contudo, meu temor maior é que espalhemos esta praga destruidora que é a religião pela galáxia.
terça-feira, 14 de abril de 2009
A Ciência é uma Religião?
É elegante lustrar apocalipticamente a ameaça à humanidade posta pelo vírus da AIDS, doença da “vaca louca”, e muitas outras, mas eu penso um caso que pode ser feito dizendo que a fé é um dos maiores males do mundo, comparável com o vírus da varíola, mas mais difícil de erradicar.
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Fé, sendo crença que não é baseada em evidência, é o principal vício de qualquer religião.
Fé, sendo crença que não é baseada em evidência, é o principal vício de qualquer religião.
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E quem, olhando para a Irlanda do Norte ou o Oriente Médio, pode estar convicto que o vírus cerebral da fé não é extremamente perigoso? Uma das histórias contadas aos jovens suicidas-bomba Muçulmanos é que o martírio é o caminho mais rápido para o paraíso - e não apenas o paraíso mas uma parte especial do paraíso onde eles irão receber sua recompensa especial de 72 noivas virgens. Me ocorre que nossa melhor esperança pode prover um tipo de “controle de armas espiritual”: mandar teólogos especialmente treinados para se desintensificar a tarifa corrente de virgens.
E quem, olhando para a Irlanda do Norte ou o Oriente Médio, pode estar convicto que o vírus cerebral da fé não é extremamente perigoso? Uma das histórias contadas aos jovens suicidas-bomba Muçulmanos é que o martírio é o caminho mais rápido para o paraíso - e não apenas o paraíso mas uma parte especial do paraíso onde eles irão receber sua recompensa especial de 72 noivas virgens. Me ocorre que nossa melhor esperança pode prover um tipo de “controle de armas espiritual”: mandar teólogos especialmente treinados para se desintensificar a tarifa corrente de virgens.
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Dados os perigos da fé - e considerando as realizações da razão e observação na atividade chamada ciência - eu acho irônico que, onde quer que eu dê uma aula publicamente, sempre aparece alguém que vem à frente e diz, “Claro, sua ciência é apenas uma religião como a nossa. Fundamentalmente, a ciência apenas reduz-se até a fé, não é?”
Dados os perigos da fé - e considerando as realizações da razão e observação na atividade chamada ciência - eu acho irônico que, onde quer que eu dê uma aula publicamente, sempre aparece alguém que vem à frente e diz, “Claro, sua ciência é apenas uma religião como a nossa. Fundamentalmente, a ciência apenas reduz-se até a fé, não é?”
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Bem, a ciência não é religião e ela não reduz-se até a fé. Embora ela tenha muitas das virtudes das religiões, ela não têm nenhum de seus vícios. A ciência é baseada em evidência verificável. A fé religiosa não apenas carece de evidência, sua independência da evidência é seu orgulho e alegria, berrado de cima dos telhados. E por que mais os Cristãos lustrariam críticas sobre São Tomé? Os outros apóstolos são levantados para nós como exemplares de virtude porque a fé não era suficiente para eles. São Tomé, por outro lado, requeria evidência. Talvez ele devesse ser o santo padroeiro dos cientistas.
Bem, a ciência não é religião e ela não reduz-se até a fé. Embora ela tenha muitas das virtudes das religiões, ela não têm nenhum de seus vícios. A ciência é baseada em evidência verificável. A fé religiosa não apenas carece de evidência, sua independência da evidência é seu orgulho e alegria, berrado de cima dos telhados. E por que mais os Cristãos lustrariam críticas sobre São Tomé? Os outros apóstolos são levantados para nós como exemplares de virtude porque a fé não era suficiente para eles. São Tomé, por outro lado, requeria evidência. Talvez ele devesse ser o santo padroeiro dos cientistas.
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Uma razão para eu receber o comentário sobre ciência sendo uma religião é porque eu acredito no fato da evolução. Eu até acredito nisso com uma convicção passional. Para alguns, isso pode superficialmente parecer-se com fé. Mas a evidência que me faz acreditar na evolução não é apenas esmagadoramente forte; ela está livremente disponível para qualquer um que tenha o trabalho de ler sobre ela. Qualquer um pode estudar a mesma evidência que eu tenho e presumivelmente chegar a mesma conclusão. Mas se você têm uma crença que é baseada somente em fé, eu não posso examinar as suas razões. Você pode se retirar atrás do muro particular da fé onde eu não posso te alcançar.
Uma razão para eu receber o comentário sobre ciência sendo uma religião é porque eu acredito no fato da evolução. Eu até acredito nisso com uma convicção passional. Para alguns, isso pode superficialmente parecer-se com fé. Mas a evidência que me faz acreditar na evolução não é apenas esmagadoramente forte; ela está livremente disponível para qualquer um que tenha o trabalho de ler sobre ela. Qualquer um pode estudar a mesma evidência que eu tenho e presumivelmente chegar a mesma conclusão. Mas se você têm uma crença que é baseada somente em fé, eu não posso examinar as suas razões. Você pode se retirar atrás do muro particular da fé onde eu não posso te alcançar.
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Agora na prática, claro, cientistas individuais algumas vezes escorregam de volta para o vício da fé, e alguns podem acreditar tão cegamente em uma teoria favorita que eles até ocasionalmente falsificam evidência. Entretanto, o fato que isso algumas vezes ocorre não altera o princípio que, quando eles o fazem, eles fazem com vergonha e não com orgulho. O método da ciência é tão planejado que ele normalmente os acha no final.
Agora na prática, claro, cientistas individuais algumas vezes escorregam de volta para o vício da fé, e alguns podem acreditar tão cegamente em uma teoria favorita que eles até ocasionalmente falsificam evidência. Entretanto, o fato que isso algumas vezes ocorre não altera o princípio que, quando eles o fazem, eles fazem com vergonha e não com orgulho. O método da ciência é tão planejado que ele normalmente os acha no final.
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A ciência é atualmente uma das mais morais, uma das mais honestas disciplinas que existem - porque a ciência iria colapsar completamente se não fosse por uma aderência escrupulosa para com a honestidade ao reportar evidência. (Como disse James Randi, essa é uma razão pela qual os cientistas são tão raramente enganados por paranormais trapaceiros e pelo qual a parte de desbancar é executada melhor por mágicos profissionais; cientistas simplesmente não antecipam desonestidade deliberada também.) Existem outras profissões (não se precisa mencionar advogados especificamente) na qual falsificar evidências ou pelo menos deformá-las é precisamente para o que pessoas são pagas e ganham pontos por fazer isso.
A ciência é atualmente uma das mais morais, uma das mais honestas disciplinas que existem - porque a ciência iria colapsar completamente se não fosse por uma aderência escrupulosa para com a honestidade ao reportar evidência. (Como disse James Randi, essa é uma razão pela qual os cientistas são tão raramente enganados por paranormais trapaceiros e pelo qual a parte de desbancar é executada melhor por mágicos profissionais; cientistas simplesmente não antecipam desonestidade deliberada também.) Existem outras profissões (não se precisa mencionar advogados especificamente) na qual falsificar evidências ou pelo menos deformá-las é precisamente para o que pessoas são pagas e ganham pontos por fazer isso.
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A ciência, então, está livre do principal vício da religião, que é a fé. Mas, como eu disse, a ciência têm algumas das virtudes das religiões. A religião pode aspirar prover a seus seguidores vários benefícios - entre eles explicação, consolação, e levantar o astral. A ciência, também, têm algo a oferecer nestas áreas.
A ciência, então, está livre do principal vício da religião, que é a fé. Mas, como eu disse, a ciência têm algumas das virtudes das religiões. A religião pode aspirar prover a seus seguidores vários benefícios - entre eles explicação, consolação, e levantar o astral. A ciência, também, têm algo a oferecer nestas áreas.
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Os humanos têm uma grande sede por explicação. Isso pode ser uma das razões principais do porquê a humanidade têm tão universalmente uma religião, desde que as religiões aspirem prover explicações. Nós viemos à nossa consciência individual em um universo misterioso e longo para se entender. A maioria das religiões oferece uma cosmologia e uma biologia, uma teoria da vida, uma teoria das origens, e as razões para a existência. Ao fazer isso, elas demonstram que a religião é, de uma maneira, ciência; é apenas uma ciência ruim. Não caia no argumento que a religião e a ciência operam em dimensões separadas e que estão preocupadas com questões de tipos diferentes. As religiões tem historicamente sempre tentado responder perguntas que corretamente pertencem à ciência. Desta maneira as religiões não devem ter permissão agora para se retirar do chão onde elas tradicionalmente vem tentando lutar. Elas oferecem tanto uma cosmologia quanto uma biologia, entretanto, em ambos os casos ela é falsa.
Os humanos têm uma grande sede por explicação. Isso pode ser uma das razões principais do porquê a humanidade têm tão universalmente uma religião, desde que as religiões aspirem prover explicações. Nós viemos à nossa consciência individual em um universo misterioso e longo para se entender. A maioria das religiões oferece uma cosmologia e uma biologia, uma teoria da vida, uma teoria das origens, e as razões para a existência. Ao fazer isso, elas demonstram que a religião é, de uma maneira, ciência; é apenas uma ciência ruim. Não caia no argumento que a religião e a ciência operam em dimensões separadas e que estão preocupadas com questões de tipos diferentes. As religiões tem historicamente sempre tentado responder perguntas que corretamente pertencem à ciência. Desta maneira as religiões não devem ter permissão agora para se retirar do chão onde elas tradicionalmente vem tentando lutar. Elas oferecem tanto uma cosmologia quanto uma biologia, entretanto, em ambos os casos ela é falsa.
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Consolação é mais difícil para a ciência prover. Diferente da religião, a ciência não pode oferecer aos enlutados uma reunião gloriosa com seus amados no além. Esses enganados nessa terra não podem, em uma visão científica, antecipar a doce comeuppance para seus suplícios na vida à vir. Pode-se argumentar que, se a idéia de uma vida pós-morte é uma ilusão (como eu acredito que é), a consolação que isso oferece é vazia. Mas não é necessariamente assim, uma crença falsa pode ser tão confortante quanto uma verdadeira, contanto que o crente nunca descubra sua falsidade. Mas se as consolações vêm assim tão barato, a ciência pode pesar com outros paliativos baratos, tais como drogas analgésicas, conforto pode ou não ser ilusório, mas ele funciona.
Consolação é mais difícil para a ciência prover. Diferente da religião, a ciência não pode oferecer aos enlutados uma reunião gloriosa com seus amados no além. Esses enganados nessa terra não podem, em uma visão científica, antecipar a doce comeuppance para seus suplícios na vida à vir. Pode-se argumentar que, se a idéia de uma vida pós-morte é uma ilusão (como eu acredito que é), a consolação que isso oferece é vazia. Mas não é necessariamente assim, uma crença falsa pode ser tão confortante quanto uma verdadeira, contanto que o crente nunca descubra sua falsidade. Mas se as consolações vêm assim tão barato, a ciência pode pesar com outros paliativos baratos, tais como drogas analgésicas, conforto pode ou não ser ilusório, mas ele funciona.
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Levantar o astral, entretanto, é onde a ciência realmente vêm a auxiliar. Todas as grandes religiões têm um local para temer respeitosamente, para transporte extasiado ao espanto e beleza da criação. E é exatamente essa sensação de arrepio na espinha, imponente de tirar o fôlego - quase adoração - essa inundação do peito com espanto extasiado, que a ciência moderna pode prover. E ela faz além dos sonhos mais extravagantes de santos e místicos. O fato que o sobrenatural não tem lugar nas nossas explicações, em nossa compreensão de tanto sobre o universo e a vida, não diminui o espanto. Pelo contrário. O mais mero olhar de relance através de um microscópio no cérebro de uma formiga ou através de um telescópio numa galáxia distante de bilhões de mundos é suficiente para deixar acanhado e paroquial os próprios salmos de reza.
Agora, como eu disse, quando me é posto que a ciência ou alguma parte particular da ciência, como a teoria evolucionária, é apenas uma religião como qualquer outra, eu normalmente nego isso com indignação. Mas eu comecei a me perguntar se talvez essa não é a tática errada. Talvez a tática correta seja aceitar de bom grado a carga e demandar igual tempo para ciência nas classes de educação religiosa. E quanto mais eu penso sobre isso, mais eu percebo que um excelente argumento poderia ser feito quanto a isso. Então eu quero falar um pouco sobre educação religiosa e a função que a ciência pode ter nisso.
Levantar o astral, entretanto, é onde a ciência realmente vêm a auxiliar. Todas as grandes religiões têm um local para temer respeitosamente, para transporte extasiado ao espanto e beleza da criação. E é exatamente essa sensação de arrepio na espinha, imponente de tirar o fôlego - quase adoração - essa inundação do peito com espanto extasiado, que a ciência moderna pode prover. E ela faz além dos sonhos mais extravagantes de santos e místicos. O fato que o sobrenatural não tem lugar nas nossas explicações, em nossa compreensão de tanto sobre o universo e a vida, não diminui o espanto. Pelo contrário. O mais mero olhar de relance através de um microscópio no cérebro de uma formiga ou através de um telescópio numa galáxia distante de bilhões de mundos é suficiente para deixar acanhado e paroquial os próprios salmos de reza.
Agora, como eu disse, quando me é posto que a ciência ou alguma parte particular da ciência, como a teoria evolucionária, é apenas uma religião como qualquer outra, eu normalmente nego isso com indignação. Mas eu comecei a me perguntar se talvez essa não é a tática errada. Talvez a tática correta seja aceitar de bom grado a carga e demandar igual tempo para ciência nas classes de educação religiosa. E quanto mais eu penso sobre isso, mais eu percebo que um excelente argumento poderia ser feito quanto a isso. Então eu quero falar um pouco sobre educação religiosa e a função que a ciência pode ter nisso.
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Eu sinto muito pelo modo como as crianças são criadas. Eu não sou inteiramente familiar com o jeito que as coisas são nos Estados Unidos, e o que eu digo deve ter mais relevância no Reino Unido, onde há instrução religiosa para todas as crianças obrigada pelo estado, legalmente forçada. Isso é inconstitucional nos Estados Unidos, mas eu presumo que as crianças recebem todavia instrução religiosa sob qualquer que seja a religião particular que seus pais julguem conveniente.
Eu sinto muito pelo modo como as crianças são criadas. Eu não sou inteiramente familiar com o jeito que as coisas são nos Estados Unidos, e o que eu digo deve ter mais relevância no Reino Unido, onde há instrução religiosa para todas as crianças obrigada pelo estado, legalmente forçada. Isso é inconstitucional nos Estados Unidos, mas eu presumo que as crianças recebem todavia instrução religiosa sob qualquer que seja a religião particular que seus pais julguem conveniente.
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O que me trás ao meu argumento sobre abuso mental infantil. Em uma edição de 1995 do Independent, um dos principais jornais de Londres, havia uma fotografia de uma cena de certa forma doce e tocante. Era época de Natal, e a foto mostrou três crianças vestidas como os três reis magos para uma representação de natividade. A história acompanhando descrevia uma criança como uma Muçulmana, uma como uma Hindu, e uma como uma Cristã. A supostamente doce e tocante parte da história era que elas todas estavam fazendo parte nessa atuação de Natividade.
O que me trás ao meu argumento sobre abuso mental infantil. Em uma edição de 1995 do Independent, um dos principais jornais de Londres, havia uma fotografia de uma cena de certa forma doce e tocante. Era época de Natal, e a foto mostrou três crianças vestidas como os três reis magos para uma representação de natividade. A história acompanhando descrevia uma criança como uma Muçulmana, uma como uma Hindu, e uma como uma Cristã. A supostamente doce e tocante parte da história era que elas todas estavam fazendo parte nessa atuação de Natividade.
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O que não é doce e tocante é que todas essas crianças tinham quatro anos. Como você poderia descrever uma criança de quatro anos como uma Muçulmana ou uma Cristã ou uma Hindu ou uma Judia? Você falaria sobre um economista monetarista de quatro anos? Você falaria sobre um neo-isolacionista de quatro anos ou um Republicano liberal de quatro anos? Existem opiniões sobre o cosmos e o mundo que crianças, uma vez crescidas, irão provavelmente estar em uma posição para avaliarem por si mesmas. Religião é o campo em nossa cultura sobre o qual é absolutamente aceito, sem questionar - sem mesmo perceber-se quão bizarro isso é - que os pais têm uma total e absoluta palavra sobre o que suas crianças irão ser, como suas crianças irão ser criadas, que opiniões suas crianças irão ter sobre o cosmos, sobre a vida, sobre a existência. Você percebe o que eu quero dizer com abuso mental infantil?
O que não é doce e tocante é que todas essas crianças tinham quatro anos. Como você poderia descrever uma criança de quatro anos como uma Muçulmana ou uma Cristã ou uma Hindu ou uma Judia? Você falaria sobre um economista monetarista de quatro anos? Você falaria sobre um neo-isolacionista de quatro anos ou um Republicano liberal de quatro anos? Existem opiniões sobre o cosmos e o mundo que crianças, uma vez crescidas, irão provavelmente estar em uma posição para avaliarem por si mesmas. Religião é o campo em nossa cultura sobre o qual é absolutamente aceito, sem questionar - sem mesmo perceber-se quão bizarro isso é - que os pais têm uma total e absoluta palavra sobre o que suas crianças irão ser, como suas crianças irão ser criadas, que opiniões suas crianças irão ter sobre o cosmos, sobre a vida, sobre a existência. Você percebe o que eu quero dizer com abuso mental infantil?
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Olhando agora para as várias coisas que se pode esperar realizar de uma educação religiosa, uma dessas metas pode ser encorajar crianças a refletir sobre as questões profundas da existência, convidá-las para subir acima das preocupações monótonas da vida ordinária e pensar sub specie arternitatis.
Olhando agora para as várias coisas que se pode esperar realizar de uma educação religiosa, uma dessas metas pode ser encorajar crianças a refletir sobre as questões profundas da existência, convidá-las para subir acima das preocupações monótonas da vida ordinária e pensar sub specie arternitatis.
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A ciência pode oferecer uma visão da vida e do universo que, como eu já comentei, para a inspiração poética humilde excede de longe qualquer uma das fés mutualmente contraditórias e recentes tradições desapontantes das religiões mundiais.
A ciência pode oferecer uma visão da vida e do universo que, como eu já comentei, para a inspiração poética humilde excede de longe qualquer uma das fés mutualmente contraditórias e recentes tradições desapontantes das religiões mundiais.
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Por exemplo, como crianças de uma classe de educação religiosa poderiam falhar em serem inspiradas se nós pudéssemos fazê-las ter uma idéia vaga da idade do universo? Suponha que, no momento da morte de Cristo, as notícias sobre isso tivessem começado a viajar à máxima velocidade possível para fora da terra pelo universo. Quão distante as terríveis marés teriam viajado até agora? Seguindo a teoria especial da relatividade, a resposta é que as notícias não poderiam, sobre qualquer circunstâncias que sejam, ter alcançado mais do que um cinqüenta avos do caminho através de uma galáxia - menos do que um milésimo do caminho até nossa galáxia mais próxima neste forte universo de 100 milhões de galáxias. O universo em geral não poderia possivelmente ser outra coisa senão indiferente à Cristo, seu nascimento, sua paixão, e sua morte. Até mesmo notícias momentâneas do tipo da origem da vida na Terra poderiam ter viajado apenas até o nosso aglomerado local de galáxias. Mesmo sendo tão antigo esse evento em nossa escala de tempo terrestre, se você estender sua idade com a abertura de seus braços, toda a história humana, toda a cultura humana, iria cair da ponta do seu dedo na poeira ao simples golpe da lixa de unha.
Por exemplo, como crianças de uma classe de educação religiosa poderiam falhar em serem inspiradas se nós pudéssemos fazê-las ter uma idéia vaga da idade do universo? Suponha que, no momento da morte de Cristo, as notícias sobre isso tivessem começado a viajar à máxima velocidade possível para fora da terra pelo universo. Quão distante as terríveis marés teriam viajado até agora? Seguindo a teoria especial da relatividade, a resposta é que as notícias não poderiam, sobre qualquer circunstâncias que sejam, ter alcançado mais do que um cinqüenta avos do caminho através de uma galáxia - menos do que um milésimo do caminho até nossa galáxia mais próxima neste forte universo de 100 milhões de galáxias. O universo em geral não poderia possivelmente ser outra coisa senão indiferente à Cristo, seu nascimento, sua paixão, e sua morte. Até mesmo notícias momentâneas do tipo da origem da vida na Terra poderiam ter viajado apenas até o nosso aglomerado local de galáxias. Mesmo sendo tão antigo esse evento em nossa escala de tempo terrestre, se você estender sua idade com a abertura de seus braços, toda a história humana, toda a cultura humana, iria cair da ponta do seu dedo na poeira ao simples golpe da lixa de unha.
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O argumento do propósito, uma parte importante da história da religião, não seria ignorado nas classes da minha educação religiosa, desnecessário dizer. As crianças iriam olhar para as maravilhas enfeitiçadoras dos reinos vivos e iriam considerar o Darwinismo ao lado das alternativas criacionistas e iriam se decidir. Eu acho que as crianças não iriam ter dificuldades em se decidir da forma correta se apresentadas à evidência. O que me preocupa não é a questão do tempo igual mas que, tão quanto eu posso ver, as crianças no Reino Unido e nos Estados Unidos não tem nenhum tempo dado com evolução porém são ensinadas com criacionismo (seja na escola, na igreja, ou em casa).
O argumento do propósito, uma parte importante da história da religião, não seria ignorado nas classes da minha educação religiosa, desnecessário dizer. As crianças iriam olhar para as maravilhas enfeitiçadoras dos reinos vivos e iriam considerar o Darwinismo ao lado das alternativas criacionistas e iriam se decidir. Eu acho que as crianças não iriam ter dificuldades em se decidir da forma correta se apresentadas à evidência. O que me preocupa não é a questão do tempo igual mas que, tão quanto eu posso ver, as crianças no Reino Unido e nos Estados Unidos não tem nenhum tempo dado com evolução porém são ensinadas com criacionismo (seja na escola, na igreja, ou em casa).
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Também seria interessante ensinar mais do que uma teoria de criação. A dominante nessa cultura ocorre sendo o mito de criação Judaico, que é tomado sobre o mito de criação Babilônico. Existem, claro, muitos e muitos outros, e talvez a eles todos devesse ser dado tempo igual (salvo que isso não deixaria muito tempo para estudar qualquer outra coisa). Eu entendo que existem Hindus que acreditam que o mundo foi criado em uma vasilha de manteiga cósmica e Nigerianos que acreditam que o mundo foi criado por Deus do excremento de formigas. Com certeza essas histórias têm tanto direito à tempo igual quanto os mitos Judeo-Cristãos de Adão e Eva.
Também seria interessante ensinar mais do que uma teoria de criação. A dominante nessa cultura ocorre sendo o mito de criação Judaico, que é tomado sobre o mito de criação Babilônico. Existem, claro, muitos e muitos outros, e talvez a eles todos devesse ser dado tempo igual (salvo que isso não deixaria muito tempo para estudar qualquer outra coisa). Eu entendo que existem Hindus que acreditam que o mundo foi criado em uma vasilha de manteiga cósmica e Nigerianos que acreditam que o mundo foi criado por Deus do excremento de formigas. Com certeza essas histórias têm tanto direito à tempo igual quanto os mitos Judeo-Cristãos de Adão e Eva.
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Já basta para o Gênesis; agora vamos aos profetas. O Cometa Halley irá retornar sem falha no ano de 2062. Profecias Bíblicas ou Délficas nem começam a aspirar tal precisão; astrólogos e Nostradamus ousam não se comprometer com prognósticos fatuais mas, melhor dizendo, disfarçam seu charlatanismo em uma tela nebulosa de incerteza. Quando os cometas apareceram no passado, eles freqüentemente foram interpretados como presságios de desastres. A astrologia teve um papel importante em várias tradições religiosas, incluindo o Hinduismo. É dito que os três reis magos que eu mencionei anteriormente foram guiados ao berço de Jesus por uma estrela. Nós podemos perguntar às crianças por qual rota física elas imaginam que a alegada influência estelar nos afazeres humanos poderia viajar.
Já basta para o Gênesis; agora vamos aos profetas. O Cometa Halley irá retornar sem falha no ano de 2062. Profecias Bíblicas ou Délficas nem começam a aspirar tal precisão; astrólogos e Nostradamus ousam não se comprometer com prognósticos fatuais mas, melhor dizendo, disfarçam seu charlatanismo em uma tela nebulosa de incerteza. Quando os cometas apareceram no passado, eles freqüentemente foram interpretados como presságios de desastres. A astrologia teve um papel importante em várias tradições religiosas, incluindo o Hinduismo. É dito que os três reis magos que eu mencionei anteriormente foram guiados ao berço de Jesus por uma estrela. Nós podemos perguntar às crianças por qual rota física elas imaginam que a alegada influência estelar nos afazeres humanos poderia viajar.
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A propósito, houve um programa chocante na rádio BBC perto do Natal de 1995 apresentando uma astrônoma, um bispo, e um jornalista que foram mandados em uma tarefa para retraçar os passos dos três reis magos. Bem, você poderia entender a participação do bispo e do jornalista (que era um escritor religioso), mas a astrônoma era supostamente uma respeitável astrônoma escritora, e mesmo assim ela foi adiante com isso! Ao longo do caminho, ela falou sobre os presságios quando Saturno e Júpiter estavam no ascendente superior de Urano ou seja lá o que foi. Ela realmente não acredita em astrologia, mas um dos problemas é que nossa cultura foi ensinada a se tornar tolerante à isso, vagamente entretidos por isso - tanto que até mesmo algumas pessoas científicas que não acreditam em astrologia de certa forma pensam que isso é um pouco inofensivamente divertido. Eu tomo a astrologia, de fato, muito seriamente: eu acho que ela é profundamente perniciosa porque ela mina a racionalização, e eu gostaria de ver campanhas contra ela.
A propósito, houve um programa chocante na rádio BBC perto do Natal de 1995 apresentando uma astrônoma, um bispo, e um jornalista que foram mandados em uma tarefa para retraçar os passos dos três reis magos. Bem, você poderia entender a participação do bispo e do jornalista (que era um escritor religioso), mas a astrônoma era supostamente uma respeitável astrônoma escritora, e mesmo assim ela foi adiante com isso! Ao longo do caminho, ela falou sobre os presságios quando Saturno e Júpiter estavam no ascendente superior de Urano ou seja lá o que foi. Ela realmente não acredita em astrologia, mas um dos problemas é que nossa cultura foi ensinada a se tornar tolerante à isso, vagamente entretidos por isso - tanto que até mesmo algumas pessoas científicas que não acreditam em astrologia de certa forma pensam que isso é um pouco inofensivamente divertido. Eu tomo a astrologia, de fato, muito seriamente: eu acho que ela é profundamente perniciosa porque ela mina a racionalização, e eu gostaria de ver campanhas contra ela.
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Quando as classes de educação religiosa se viram para a ética, eu não acho que a ciência realmente têm muito à dizer, e eu não a substituiria com uma filosofia moral racional. As crianças realmente pensam que há um padrão absoluto para certo e errado? E se existe, de onde ele vem? Você pode fazer bons princípios de certo e errado como “faça como se você fosse feito por” e “o melhor para o maior número” (seja lá o que isso queira dizer)? Essa é uma pergunta recompensadora, qualquer que seja a sua moralidade pessoal, perguntar como um evolucionista de onde a moral vem; por qual caminho o cérebro humano ganhou essa tendência de ter ética e moral, uma sensação de certo e errado?
Quando as classes de educação religiosa se viram para a ética, eu não acho que a ciência realmente têm muito à dizer, e eu não a substituiria com uma filosofia moral racional. As crianças realmente pensam que há um padrão absoluto para certo e errado? E se existe, de onde ele vem? Você pode fazer bons princípios de certo e errado como “faça como se você fosse feito por” e “o melhor para o maior número” (seja lá o que isso queira dizer)? Essa é uma pergunta recompensadora, qualquer que seja a sua moralidade pessoal, perguntar como um evolucionista de onde a moral vem; por qual caminho o cérebro humano ganhou essa tendência de ter ética e moral, uma sensação de certo e errado?
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Deveríamos dar mais valor à vida humana do que às outras vidas? Há um muro rígido a ser construído ao redor da espécie Homo sapiens ou deveríamos nos perguntar se existe outras espécies que têm direito à nossa simnatia humanística? Deveríamos, por exemplo, seguir o lobby do direito-à-vida, que está inteiramente preocupado com a vida humana, e dar valor à vida de um feto humano com as faculdades mentais de uma minhoca acima da vida de um cimpanzé que pensa e tem sentimentos? Qual é a base dessa cerca que nós erguemos em volta do Homo sapiens - até mesmo em volta de um pequeno tecido fetal? (Não é uma sensata idéia evolucionária quando você pensa sobre isso.) Quando, em nossa descendência evolucionária de nosso ancestral comum com os chimpanzés, a cerca repentinamente se levantou?
Deveríamos dar mais valor à vida humana do que às outras vidas? Há um muro rígido a ser construído ao redor da espécie Homo sapiens ou deveríamos nos perguntar se existe outras espécies que têm direito à nossa simnatia humanística? Deveríamos, por exemplo, seguir o lobby do direito-à-vida, que está inteiramente preocupado com a vida humana, e dar valor à vida de um feto humano com as faculdades mentais de uma minhoca acima da vida de um cimpanzé que pensa e tem sentimentos? Qual é a base dessa cerca que nós erguemos em volta do Homo sapiens - até mesmo em volta de um pequeno tecido fetal? (Não é uma sensata idéia evolucionária quando você pensa sobre isso.) Quando, em nossa descendência evolucionária de nosso ancestral comum com os chimpanzés, a cerca repentinamente se levantou?
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Bem, continuando, então, da moral para as últimas coisas, para a escatologia, nós sabemos da segunda lei da termodinâmica que toda complexidade, toda vida, toda risada, toda tristeza, está muito inclinada em se nivelar em um frio nada no final. Eles - e nós - nunca podem ser mais do que temporárias, corcoveadas locais do grande escorregão universal dentro do abismo da uniformidade.
Bem, continuando, então, da moral para as últimas coisas, para a escatologia, nós sabemos da segunda lei da termodinâmica que toda complexidade, toda vida, toda risada, toda tristeza, está muito inclinada em se nivelar em um frio nada no final. Eles - e nós - nunca podem ser mais do que temporárias, corcoveadas locais do grande escorregão universal dentro do abismo da uniformidade.
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Nós sabemos que o universo está se expandindo e irá provavelmente se expandir para sempre, se bem que é possível que ele se contraia novamente. Nós sabemos que, o que quer que aconteça com o universo, o sol irá engolfar a terra em cerca de 60 milhões de séculos a partir de agora.
O tempo por si próprio começou em um certo momento, e o tempo pode terminar em um certo momento - ou não pode. O tempo chegar à um fim localmente em migalhas miniaturas chamadas buracos negros. As leis do universo parecem não ser verdadeiras em todo o universo. Porque isso? As leis podem mudar nessas migalhas? Para ser realmente especulativo, o tempo poderia começar novamente com novas leis da física, novas constantes físicas. E até foi sugerido que podem existir muitos universos, cada um tão completamente isolado que, para eles, os outros não existem. Então novamente, pode haver uma seleção Darwiniana entre universos.
Então a ciência pode dar um bom relato de si mesma em educação religiosa. Mas isso não seria suficiente. Eu acredito que alguma familiaridade com a versão da Bíblia do Rei James é mais importante para qualquer um querendo compreender as alusões que aparecem na literatura Inglesa. Junto com o Livro da Prece Comum, a Bíblia têm 58 páginas no Dicionário Oxford de Citações. Apenas Shakespeare têm mais. Eu penso que não ter nenhum tipo de educação bíblica é infortuno se as crianças querem ler a literatura Inglesa e entender a origem de frases como “através do vidro escuro,” “toda carne é como a grama,” “a corrida não é para o veloz,” “chorando no sertão,” “ceifando o furacão,” “entre o milho estrangeiro,” “Sem olhos em Gaza,” “Confortadores de trabalho,” e “o mite da viúva.”
Nós sabemos que o universo está se expandindo e irá provavelmente se expandir para sempre, se bem que é possível que ele se contraia novamente. Nós sabemos que, o que quer que aconteça com o universo, o sol irá engolfar a terra em cerca de 60 milhões de séculos a partir de agora.
O tempo por si próprio começou em um certo momento, e o tempo pode terminar em um certo momento - ou não pode. O tempo chegar à um fim localmente em migalhas miniaturas chamadas buracos negros. As leis do universo parecem não ser verdadeiras em todo o universo. Porque isso? As leis podem mudar nessas migalhas? Para ser realmente especulativo, o tempo poderia começar novamente com novas leis da física, novas constantes físicas. E até foi sugerido que podem existir muitos universos, cada um tão completamente isolado que, para eles, os outros não existem. Então novamente, pode haver uma seleção Darwiniana entre universos.
Então a ciência pode dar um bom relato de si mesma em educação religiosa. Mas isso não seria suficiente. Eu acredito que alguma familiaridade com a versão da Bíblia do Rei James é mais importante para qualquer um querendo compreender as alusões que aparecem na literatura Inglesa. Junto com o Livro da Prece Comum, a Bíblia têm 58 páginas no Dicionário Oxford de Citações. Apenas Shakespeare têm mais. Eu penso que não ter nenhum tipo de educação bíblica é infortuno se as crianças querem ler a literatura Inglesa e entender a origem de frases como “através do vidro escuro,” “toda carne é como a grama,” “a corrida não é para o veloz,” “chorando no sertão,” “ceifando o furacão,” “entre o milho estrangeiro,” “Sem olhos em Gaza,” “Confortadores de trabalho,” e “o mite da viúva.”
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Eu quero retornar agora à acusação que a ciência é somente uma fé. A mais extrema versão dessa acusação - e uma que eu freqüentemente encontro tanto como um cientista quanto como um racionalista - é uma acusação de excesso de zelo e fanatismo nos próprios cientistas tão grande como os achados em pessoas religiosas. Algumas vezes pode haver um pouco de justiça nessa acusação; mas como fanáticos zelosos, nós cientistas somos meros amadores no jogo. Nós estamos contentes em argumentar com os que discordam de nós. Nós não os matamos.
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Eu quero retornar agora à acusação que a ciência é somente uma fé. A mais extrema versão dessa acusação - e uma que eu freqüentemente encontro tanto como um cientista quanto como um racionalista - é uma acusação de excesso de zelo e fanatismo nos próprios cientistas tão grande como os achados em pessoas religiosas. Algumas vezes pode haver um pouco de justiça nessa acusação; mas como fanáticos zelosos, nós cientistas somos meros amadores no jogo. Nós estamos contentes em argumentar com os que discordam de nós. Nós não os matamos.
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Mas eu iria querer negar até a menor acusação de excesso de zelo puramente verbal. Há uma diferença muito, muito importante entre gostar fortemente, até apaixonadamente, de algo porque nós temos examinado a evidência e pensado sobre isso por outro lado, e gostar fortemente de algo porque isso foi interiormente revelado à nós, ou interiormente revelado a outra pessoa na história e subseqüentemente consagrado pela tradição. Existe toda a diferença no mundo entre a crença que alguém está preparado para defender por citar evidência e lógica e uma crença que é suportada por nada mais do que tradição, autoridade, ou revelação.
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Fonte: Sociedade da Terra Redonda
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Fonte: Sociedade da Terra Redonda
Nietzsche
“Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. – Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza. Houve eternidades em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta que conduzisse além da vida humana. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos então que também ela bóia no ar com esse páthos e sente em si o centro voante deste mundo. Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo um odre; e como todo transportador de carga quer ter seu admirador, mesmo o mais orgulhoso dos homens, o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre seu agir e pensar.”
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